Saturday, December 29, 2012

today on stage: Wooden Shjips


    Ontem fui "empurrado" novamente para a estrada, e sem ter a noção exacta do momento, acabei numa viagem espiral no tempo, que me levou a momentos, sítios e pessoas que, pensava eu, ter guardados nas memórias, mas que afinal se recusam a ser só isso (memórias!) e se transformaram num "grande todo" actual, resultado das vivências.
    Acabei a vaguear ( ou seja, vadiar devagarinho) com uma morena, as ruas de uma cidade adormecida, sobre uma lua de olho cheio, que nos olhava (e certamente se ria !!!), dos nossos "tropeções" um no outro, das nossas pequenas corridas em semáforos vermelhos de ruas vazias e da nossa animada conversa, que quase nos transformava, a nós os intervenientes, numa espécie de terceira e quarta pessoa.
    O frio acabou por nos empurrar para dentro de um taxi, com muita relutância da minha vontade, pois acabo sempre por querer mais e nunca me resignar ao suficiente, o que me joga tantas vezes no excesso. Culpa minha, por sempre optar pela loucura... uma loucura, que vejo já ter passado de moda, se é que há algum tipo de loucura que passe de moda e se é que há algum tipo de mente sã que opte por ser louco.


What drugs do to... chopper´s


Sunday, December 23, 2012

Velocidade excêntrica.

   
    No ponto de partida, a sensação de nervoso, acompanha a "ligeireza" da embraiagem "tosca".
    De repente a velocidade ganha uma nova dimensão, afunilando a visão, centrada num "todo".
    O corpo reage a este movimento, com uma coragem, que exige o máximo de todos os sentidos. Mas, recebe em retorno, a possibilidade de se sentir livre, num gozo inexplicável, sem amarras como um pássaro que escolhe o próprio trajecto e se recusa a submeter ao "estipulado".
    É talvez o disparar da adrenalina, que nos faz ser absorvidos por essa realidade, numa maneira confortavelmente solitária. Monólogos de quem se recusa a estagnar, vivendo a "liberdade" no movimento, que nos leva além... para além... mais além!!! Tudo num processo, que é uma brilhante conjuntura biomecânica. Como uma tela pintada que se estende, num movimento em profundidade, para dentro dela própria.
        
    Habituamo-nos a trocar de liberdades, vacilando entre o que queremos, o que temos, e o que temos de ter.
    Inutilmente a nossa originalidade passa por excentricidade. Minimizando o "fugir" do código social, minimizando a importância das escolhas e impondo o "standard" como ambição.
        
    "... é o projecto da casa,
      é o corpo na cama,
      é o carro usado,
      é a lama, é a lama."

    Os valores mudaram, o mundo evolui-o, o tempo ficou curto. A palavra perdeu o valor para contratos protegidos por regras, feitas por aqueles que são os primeiros a quebrarem-nas.
    Fugazmente, mas ainda, marca-se estilos de vida nas palavras do escritor
    
    "O heróico no ser humano é não pertencer ao rebanho".

photo by Josh Kurpius





 

RIDE IT LIKE YOU STOLE IT

Tattoo by: Feio in Heart Of Buda shop

O congelar do momento preciso... uma imagem, uma revolta, uma atitude, um estilo de vida. Certamente, dificil de mais para explicar, a quem não entender.
Jasin Phares by DutchmanPhotos

Tuesday, December 11, 2012

livros de bolso.

O sol rebentou por aqui em Wonderland e ao fim da manhã fui deambular um pouco pelo ghetto, aproveitando o sol entre um cigarro enrolado e um café preto.
Parei em frente a uma banca de jornais, para "saltitar" as grandes das primeiras paginas e... senti-me instantaneamente puxado para uma espiral "de letras " ... corrupções, indignações, imposições, explorações de "pões e dispões".

Quando acabei, senti-me cansado pelo sensacionalismo... "mastigado" por tantos "ões". Literalmente à beira de um precipício, com uma serie de indivíduos e instituições( com nomes que se podem resumir em adjectivos, também eles acabados em "ões"), prontos a empurrarem-me.

E então pensei...todas aquelas diferentes paginas de jornais, resumiam-se bem a um clássico, que tenho na prateleira,já velhinho, comprado em segunda mão. Uma crítica ao que "haveria de vir", ironizada em forma de obra de arte... e que hoje... por ser hoje ( não sei se culpa do sol de inverno, ou do café e do cigarro enrolado), fazia tanto sentido exposto naquela banca, em todas as primeiras paginas de jornais de "todos" os temas.
 
 Um amigo, mando-me na semana passada um mail, a sujerir que começa-se a falar por aqui sobre alguns livros, que vão acompanhando o meu dia a dia (simplesmente pelo gosto de ler!) e que tenho por hábito de sujerir "á malta". Não esperem nenhum descortínio intectual. Por vezes, não serão mais do que "titulos chamativos" de livros baratos, comprados nessas lojas de segunda mão ou "modas" publicitadas, que acabam por me ser dadas, em prendas "de boa figura". Mas talvez entre "esses" e "outros", possam apareçer agradáveis surpresas de leitura.
Resolvi, deixando o meu ironismo levar a melhor, começar com um clássico, que comprei numa loja dessas que ainda "deixam" ler com pouco dinheiro.
A quem nunca leu , fica o conselho de uma história, do que também era para ser... um país de maravilhas.

Wednesday, December 5, 2012

today on stage: Lana Del Rey

 Se não fosse pela participação dos "Kemosabe", provavelmente nunca teria prestado atenção a esta música. Acabei por ficar surpreendido... gostei da música, gostei da morena que canta (mas isso já é sina!), e gostei da história da letra.
 Tudo influençiado pela "imagem" e acima de tudo, pelo sentimento de rebeldia de quem procura a liberdade na vida real, sem cenários bonitos nem amarras, jogando  rebeldemente com o destino e desafiando  a sorte de uma vida que devia ser mãe mas que teima em ser "madrasta".

 Entre várias frases, que serviam perfeitamente de legendas a cenários "pintados" sobre o horizonte de tantas "estradas", fica a "expressão"  que revela a angustia que por vezes sinto na necessidade de "pisar" alcatrão.
 Uma fome de kilometros que acumula numeros pintados em pequenas placas, que vão sendo deixadas para trás, alienando-nos, num sentimento de liberdade, do que nos rodeia. Acabamos fechados em monologos (de capacete!) que nos fazem repensar tudo o que aprendemos e avaliar tudo o que vivemos... Ponderar valores, insultar injusticas, amar e odiar numa simplicidade tão pura que a sentimos no quente do sangue bombeado pelo coração, que numa explosão de adrenalina, tenta inconcientemente, se sincronizar com o ritmo do motor.

 E é (para mim!), no momento exacto dessa sincronização, que num rasgo irracional de racionalidade, percebo o quão perto da loucura estou com esta minha "obsessão pela liberdade".  


O Kemosabe and The Lodge deverá ser um dos blogs que acompanho há mais tempo. É formado por um grupo de amigos de Chicago, um deles, artista plastico  (Mitch) e outro (Josh) um excelente fotografo que se dedicou a fotografar este estilo de vida de uma maneira muito pessoal.
Na altura, conheçi o blog por um amigo que temos em comum e que me disse : " Tu é que vais curtir o que estes gajos andam a fazer, lá para cima, em Chicago."

E curti!...

Tudo pelo espírito espelhado no estilo de vida, sem aquele sentimento de liberdade "visto de cima para baixo", como qualquer coisa que se compra com o "kit" completo, para ser igual aos filmes.

" live fast died young
  be wild and have fun (...)
  I believe in the person i want to became
  I believe in the freedom of the open road (...)

  and when I´m at war with myself... I ride...I just ride.

 Who are you? are you in touch with all your darkest fantasies?
 You have created a life for yourself where you can experience them?
 I have...
 I am fucking crazy ...
 ...but I´m free. "





fotos do blog: Kemosabe and the lodge






Saturday, December 1, 2012

...

“How in the hell could a man enjoy being awakened at 8:30 a.m. by an alarm clock, leap out of bed, dress, force-feed, shit, piss, brush teeth and hair, and fight traffic to get to a place where essentially you made lots of money for somebody else and were asked to be grateful for the opportunity to do so?"
- Charles Bukowski -
photo:Matt Landman x Dice
 

Sunday, November 25, 2012

"Frenezim" num país de maravilhas.

    Fechei-me na sala , iluminado só pela luz do ecrã, furioso comigo, por querer "escrevinhar" sobre tantas coisas, mas perder constantemente o norte.
    Não quero dizer apenas o que muitos dizem , porque acho sinceramente que há mais do que isso, e recuso-me (só para concordarem ou descordarem de mim) de cair no pontual, quando o que se passa, é uma globalidade de acontecimentos, onde vejo injustamente... deixar "escapar" os culpados do passado, "fugir" os culpados do presente, e "legitimar" ( por falta de opções e de comodismo em excesso) os culpados do futuro.
    Fico assim, a cada dia que passa , mais convencido que a "falta de conteúdo", que tantos se apressam a encontrar em situações pontuais , são extenções de uma  realidade necessária que nos grita aos ouvidos , mesmo neste "agora", onde tudo é muito mais exposto á informação e contra-informação que une , como nunca, esta  "aldeia global".
    A realidade faz a  sociedade mover-se em vários universos, num conjunto de grupos, situações e atitudes. Uma maneira "crua, cruel e por vezes feia", como sempre aconteceu em toda a "linha" da humanidade, que depois  a "historia contada" trata em romantizar.
   
    Com isto... desisto, não me acho capaz de escrevinhar sobre "um todo que há para falar"!
    Prefiro calar os meus valores, e expressar "pontualmente" a minha opinião em tertúlias "de gente amiga", que ajudo a incentivar, para não cairmos em opiniões simplistas de slogans no facebook.
    Era mais facil para mim ver isto tudo de fora, de uma maneira quase "cartonizada", reforçando o ridiculo.
    "Encolher" e procurar o primeiro buraco que me levasse a Wonderland, e olhar com os olhos de um "coelho" que vai saltitando por ai, tentando sobreviver a esta caçada que "nos fazem"...

    ... "Caçada" que se sente socialmente por todo o lado. Pois a verdadeira indignação transpira "constantemente" não das grandes manifestações, mas do dia a dia, das conversas das pessoas, dos cafés vazios, das montras cobertas com folhas de jornal... Do que havia ali e já deixou de haver e... do que havia sempre aqui, mas já não há dinheiro para comprar.
   A rainha (en)gorda(da) de copas (rapariga outrora  sedutora, de seio reluzente á mostra que nos enfeitiçava com o branco da sua pele), foi destornada por outra rainha  gorda, (obesa de nascença, com a gula como pecado).
    E brevemente, espera-se ( e não adianta olhar para o lado!) algo ainda pior, que vai cobrir, "ainda mais de escuro " o reino. O mau tempo da "indignação", vai ser substituido pela tempestade do... "desespero", e com isto, toda a sua fúria que arrasa irracionalmente "a eito", tornando a destruição a sua imagem ( e neste caso a destruição física será, sem desprimor, a mais barata socialmente).

    Entretanto olho lá para o fundo e vejo que o castelo da revolução ruiu pelas suas bases. Peças "defeituosas" com "fissuras de caracter" nas fundições, espalharam-se  ao resto da estrutura.
    Mas isso agora não interessa, porque esta rainha gorda veio para ficar no palácio principal, trouxe disciplos fieis, soluções radicais e uma nova politica de uma "republica monarquica", onde o sangue azul é substituido pelo compadrio ( como um grilo de cartola, que eu conheço, dizia! ) de "brochar" á esquerda e á direita.

    Assim... vai sendo "declarado", cada vez com menos vergonha as duas classes soçiais, que o plano ostenta para o reino: os que mandam e os que fazem!
    Até o exercito das cartas já foi "fidelizado", á mais correcta maneira dos reis antigos:
    -"Aumentem o "soldo" dos peões, prometam-lhes terra onde mandem e façam-nos jurar fidelidade" - gritou o "bobo de cabelo branco espertalhão" do alto das escadas do palácio, a mando da "gorda".
   
    A unica coisa positiva, com isto, é que os ministros da rainha, entretidos em espetaculos de sombras e marionetas, conseguiram  resumir (finalmente!) num só valor, todo o futuro que andaram a preparar com discursos extenuantes sobre bancas,taxas, juros e derivações de mercado. (E não é que isso seja uma boa noticia... apenas é uma alivio, deixar de ouvi-los nos culpar ou culpar "os americanos".)
    Sendo assim podemos esperar no valor de 10,8%,  o aumento da angustia, do desemprego, do crime, da falta de oportunidades e da perca de dignidade.No fundo um investimento na tentativa de equilíbrio entre o aumento do desespero social e da manutenção da legitimidade ganha por eles em outros tempos.

    Mas tenho de voltar de Wonderland!
    Por aqui, no verdadeiro pais das maravilhas, o cenário, mesmo cinzento ( sem cores psicadélicas!) ainda consegue ser mais irreal... os testemunhos de detidos na manifestação, contrastam com o discurso do "tempo da guerra fria" das forças "da ordem". Discurso que nos tranquiliza com pérolas como uma carga policial "adequada" sobre uma multidão, fazendo esquecer num "palavreado bonito de quem parece que anda no arame"  da falta de justificação pela  mudança de estratégia das "forças do poder",  que sujeitou um grupo de indivíduos (porque mesmo pagos e sujeitos, por opção, a ordens ,são indivíduos!) a duas horas de apedrejamento, sem qualquer intuito conhecido, a excepção (como natural) do incentivo á falta de discernimento para a execução das suas funções (nesta altura e por consequência em futuras)
    Entretanto o presidente do reino republicano, aparece (noutra cerimonia) com um novo numero cómico (quase tão cómico como o que o genro fez... para comprar um pavilhão), deixando-nos sem perceber se não tinha mesmo nada para dizer ou se foi uma maneira de continuar a não dizer nada.
    E temos de admitir... que não dizer nada, é difícil neste pais, até porque infelizmente os "bufos e os traidores" (e mais recentemente os "espertos") sempre foram uma constante neste nosso povo, e infelizmente  (digo-o  com todo o meu nacionalismo em sentido) apesar de isto ser um "facto negro" incontornável da nossa historia, presumo que será também a desculpa que "alguém" irá utilizar para  justificar  haver quem "chibou" a ideia que a "mentalidade petrodollars" tem para "serviço privado" do serviço publico.

    Tudo isto enquanto o orçamento "deste estado" é discutido por inúteis , que nos "encharcam" de opiniões e posições, parecendo ignorar as "questões simples" e a verdadeira dificuldade financeira, que não é estruturar um orçamento pelo lado da divida ou pelo lado da despesa, mas sim fazer o orçamento do mês , pelo lado da dignidade.
  
Alice num País de Maravilhas

Wednesday, November 21, 2012

today on stage: Roy Buchanan.

A perfeição de um fim de dia, "ganha-se" quando depois de "tudo" se desenrolar naturalmente ( com os seus pontos altos e baixos!), se finaliza de uma maneira "suave" , deixando o passado ficar lá longinquo, "coberto" por um presente sereno sem pressas, e o futuro... com tempo para amanhã.
Nem sempre, tudo se conjuga para isso, mas quando aconteçe, simplesmente temos de "desacelarar", deixar por instantes de "fintar" carros, de correr para fila que nos levam para mais fila. Temos de deixar a indignação pareçer mais pequena e "relaxar" a rebeldia, deste sentimento do dia a dia, que é cada vez mais de sobrevivençia.

Por isso, para uma serie de amigos "das guitarras" que tenho ( e para outros tantos com devoção e talento por outros instrumentos !), deixo aqui este senhor ... Não chega a ser demasiado relaxante para pareçer-mos intectuais "burgueses"que retornam a casa do trabalho a ouvir a antena 2, e é  suficiente "electrica", para  nos picar a alma e nos fazer lembrar, que  nunca vale a pena andar-mos todos em "fila indiana".

No dia que conseguisse escrever como este senhor toca, mesmo que ninguem me ligasse nenhuma ( pois não tenho nenhuma pretensão de ser conheçido a escrever), conseguia fazer , o que realmente acho o expoente maximo de qualquer "arte", consegui-la com o maximo de alma possivel, e saber que foi esse "maximo" que construi-o aquele momento. Tirando ao resultado final "quase" a importançia , que se revela apenas na diversão sincera e unica que deu a quem... "moldou e fez crescer".

Bom!  Apresentando devidamente este senhor, levanto-me ( o que faz com que seja mais dificil chegar ao teclado!) e faço uma pequena vénia a esta personagem (que mais me pareçe um qualquer "vadiante" boémio françês, perdido nos anos 70 americanos).

senhoras e senhores

um bocadinho da "alma" de Roy Buchanan.


Monday, November 12, 2012

uma visita indejesada...

                                                                                                                            12/11/12
   O dia acabou, e o frio impôs a sua  vontade "nas modas" desta semana. Sentei-me no sofá a enrolar um cigarro, enquanto a televisão vai-me falando da visita da mulher poderosa alemã.

    Mudo de canal, uma e outra vez,  mas...aquela personagem ( e mais umas outras tantas da mesma linha!!!) ocupam as noticias do dia.

    No meu mais profundo silêncio, olho "aquela pessoa" como um cavaleiro qualquer de um Apocalipse económico. Mas, não lhe atribuo mais culpa do que na realidade ela tem. E essa é somente no Presente... Pois a real culpa assenta-se na incompetência e desonestidade de tantos, que num cenário de oportunidades e num pais embriagado pela revolução, "destroçaram" a honestidade política  contra umas "barracas em Camarate" e moldaram este país ao interesse de homens de aventais, senhores de cruzes ao peito e famílias velhas.
    Até formaram políticos de profissão, para não serem atrapalhados pela "experiência" deles.
    Bom, e são esses que "tentam" o discurso patético e de obediência, em torno desta visita, ignorando que é simplesmente insultuoso.
    Penso que tirando a "Dona Branca" Ulrich, ninguém realmente consegue "ter lata" e apontar alguma coisa de positivo nesta visita, nesta mulher e nesta política. Nem mesmo passos coelho, tem "essa lata", e limita-se a ser uma personagem secundaria neste filme, onde aparece repetitivamente (nos vários canais) nervoso há espera da delegação, quase como um sacerdote,  esperava pela inquisição à porta da sua aldeia, para lhes resolver os problemas demoníacos do seu rebanho.
    Mas, a minha gota de agua, foi ter de ouvir a senhora merkel  falar da História Portuguesa , a "incentivar-nos" a coragem Lusitana de outros tempos, a bravura do Portugal de antigamente e como vai ser esse Portugal que vai conseguir "fazer" o que eles nos "pedem".
    passos coelho responde com termos técnicos, taxas e derivações, tudo como um aluno bem comportado que vai ao quadro dizer que a matéria da professora é a melhor.
    CARREGO NO "MUTE" DA TELEVISÃO... Já insultei a minha inteligência o suficiente, mas não mudo de canal, ainda na esperança de conseguir ver algumas noticias, mais á frente. Fico a olhar para aquelas duas personagem, atrás daqueles pequenos palanques, que se mexem num silêncio vazio ( do meu "mute"!) como marionetas de algo bem maior.
    Consigo ver algo de cómico naquilo, naquele cenário e lembro-me de repente de um excerto escrito, do escritor Monteiro Lobato, no Conto negrinha , que imaginei encaixar na perfeição, no movimento de lábios, que o paços coelho, silenciosamente fazia no meu ecrã:

  -"Excelente senhora, a patroa. Gorda, rica, dona do mundo, amimada dos padres, com lugar certo na igreja e camarote de luxo reservado no céu. Entaladas as banhas no trono ( uma cadeira de balanço na sala de jantar), ali bordava, recebia as amigas e o vigário, dando audiências, discutindo o tempo. Uma virtuosa senhora em suma - "dama de grandes virtudes apostólicas, esteio da religião e da moral"."
street art nas paredes da cidade, gritos sociais "pintados

     Estou a ver, o "maleável" ministro Portas a retribuir brevemente a visita diplomática á chanceler. E atrás de dois iguais "pequenos" palanques, no seu discurso estadista, (que tão bem conhecemos!), ele próprio lisonjear a história alemã,  a coragem Germanica de outros tempos , a bravura da Alemanha de antigamente e como vai ser essa Alemanha a conseguir que nós "façamos" o que nos "pedem".

Wednesday, November 7, 2012

Flying close to the ground...


 “Only the few know the sweetness of the twisted apples.”
                                                         - Sherwood Anderson

Tuesday, November 6, 2012

Uma Harley que atravessou o Pacífico...

Esta é uma história que não precisa de muitas frases para a compor. Tem, por si só ( no seu conteudo) uma componente romantica, simbolica e até representativa, muito maior que uma marca ou um estilo de vida.
Correu mundo pelas paginas das redes sociais, quando foi achada, no Canadá. Raptada por um mar que a engoliu no Japão, a mastigou por um ano e a cuspiu ali, numa praia  em British Columbia.
Quem a achou tentou descobrir o dono, que não a quis de volta. Acabou  (doada pelo dono) na fabrica mãe, para se valerem dela, como um monumento a quem perdeu "tudo e tanto", naquela tragica data. 
Se pensarmos bem, não foi só o japão, mas sim o mundo, quem ficou ferido, mais que não seja, pelos milhões que assitiram em directo ( por cá, logo bem de manhã!) há morte de centenas de pessoas, sem qualquer poder de "puder"...
Nunca a nossa evolução pareçeu tão minima ao olhos do colossal.

A Harley Factory, meteu-a numa caixa de acrilico, mantendo o aspecto com que foi encontrada, abandonada pela maré, e desde dia 24 de outobro, encontra-se exposta no museu da marca, como homenagem às vitimas do tsunami que abalou o japão.

Fica tambem, nestas minhas linhas, uma humilde homenagem, a um "povo do mundo" que ainda hoje se recompõem de um castigo superior.

Ironia do destino ... podia ser uma honda, uma suzuki, uma kawasaki, ou até uma yamaha.. mas não ... foi uma Harley Davidson.

                                                      RUST IN PEACE
 







Saturday, November 3, 2012

500 (2ºparte)


    O acordar foi um sacrifício, em "auto piloto", até ao primeiro "toque" da água semi-fria do duche, que lentamente ajudou a equilibrar "os níveis"  entre o cérebro e o corpo.
    Os meus companheiros de quarto já estão mais avançados e com o pequeno almoço já tomado: Eu, como me enfiaram à socapa no quarto às tantas da manhã, não tenho direito a pequeno almoço.
    Como uns donuts que estão ali perdidos no quarto, (dentro de uma embalagem de plástico) enquanto apresso-me a ajeitar a "carga". Olho o zapping que se vai fazendo, para ver "as condições" do tempo, e improviso uma maneira, de manter os pés secos e quentes, ou no mínimo..."menos" ensopados e gelados.

    Depois de todos, estarem prontos a seguir, já com o equipamento "não tão indicado para andar à chuva", devidamente "impermeabilizado" por sacos de plástico pretos e fita adesiva castanha, resolvemos fazer a partida, seguindo eles para as motas na garagem, e... esgueirando-me eu...pela porta da frente em direcção ao sitio onde tinha literalmente "abandonado" a minha companheira ontem à noite (não longe,entenda-se! logo em frente à porta do hotel!). 
    Na rua, o cenário era triste, cinzento e frio. A chuva tinha dado um tempo para respirar e para deixar a terra empapar a água que caiu durante a noite, mas não dá grandes esperanças de melhorar. Apresso-me a fazermo-nos à estrada, para puder ignorar este "primeiro" frio da manhã e encontrar aquela "primeira posição" que faz com que as "tiradas" entre bombas sejam concentradas nesta paixão que se tem com as motas... 
    Entretanto em simultâneo, "pela boca da garagem", o som anuncia a saída dos outros. E sem grandes cerimonias, metemo-nos ao nosso caminho.

    Com isto, os primeiros kms não trouxeram nada de novo ao cinzento do dia e sem nos acomodar-mos, parámos, para meter gasolina, e limpar a alma e as réstias de sono com um café.
    Nesta primeira pausa, o sol "esboçou-se", o que fez com que um cigarro se transforma-se  "confortavelmente" em dois, fiados na sorte de viajante. Sorte que se acabou por cumprir, porque após termos voltamos à estrada, a manhã começou a correr melhor, (talvez, mais fácil ,por termos decidido "fugir" para sul, diga-se!).

    Agora, em plena batalha nos céus, o "Deus Fogo" ia-se tentando impor, mostrando o seu "poder", com um calor que nos tocava "confortavelmente" a pele, e aclarava todo o céu num azul pintado por detrás das espessas nuvens.
    Isto tudo fazia o alcatrão se desenrolar à nossa frente...numa velocidade que "conforta" os sentidos, fazendo-nos "quase" planar junto ao solo.
   
    Tínhamos combinado, logo de manhã, parar numa cidade "maior" (numa dessas grandes superficies ), porque havia quem quisesse comprar umas calças, que ajudassem numa "chuva como a de ontem".
    E assim foi...desviamo-nos, por momentos da "nossa rota", guiados por "placardes" gigantes na beira da estrada, que iam dando as direcções como publicidade.
    "Encaminhados", estacionamos as motas mesmo à porta e quem não tinha "compras de última hora a fazer", ficou por aqui (como estou!) sentado no passeio. Vou enrolando um cigarro enquanto  deixo o corpo descansar das duas primeiras horas de viagem.
    Soltam-se conversas sobre estes primeiros kms, sobre o tempo que "nos espera" e sobre acessórios "que já devíamos ter",mas nunca compramos. Assuntos desta maneira "velha" de viajar, onde por vezes, a comodidade e a resistência se fundem no prazer em "andar de mota".
    Apostamos que o mais certo era "estas calças" chegarem a casa, embrulhadas no saco da loja sem terem sido usadas, ( e... nem sempre que isso aconteçe, quer dizer que não se volta a apanhar chuva).
    Compras feitas, combinamos que rumamos mais uma hora para sul (as motas tinham sido atestadas á pouco tempo). Parávamos, então, por essa altura, para almoçar numa aldeia qualquer pequena, onde haja "um sitio para comer e... "cerveza ".
    O acordo foi geral, mesmo para os, como eu, lhes era indiferente o sitio.Mas momentos antes de arrancar, já com o pé sobre o selector de mudanças, alguém pergunta:
    -" Uma hora para sul porque???"
    -" Porque tu és o único que tem conta- kms!!!" Respondi.
    Ouvi uma gargalhada de dentro do capacete, que-me levantou o polegar num sinal de "fixe, vai-te foder pá!!"( sem a maldade, claro!) mesmo antes de arrancar. Retorqui com o mesmo sinal , baixei a viseira e ri-me também...sem perder muito tempo, para não me deixar ficar para trás.
   
    Rolamos, a uma ritmo rápido (mas não num frenesim desenfreado, entenda-se!), o que faz com que levemos uma ligeira ponta de adrenalina "atiçada". Gosto de viajar assim: atento, desperto, envolvido na estrada e na dança de equilibrio com o vento, como se o movimento das motas, tivesse num tempo diferente do restante à nossa volta. Uma realidade escondida "entre o real de viver e a rebeldia de se sentir vivo".
    E com isto o tempo voa. Voa e vôou, rasgado pelo trajecto que traçamos. Claramente já tinha passado "uma hora". Mas pareçia que ninguem queria desistir, ou dar parte fraca, então continuava-mos a "bater terreno", eventualmente, pensava eu, até alguém se "queixar" de gasolina.
    Claro que a inteligençia de quem ia a frente falou mais alto ( ou então a fome !!!) e encostamos numas bombas.
    Pela primeira vez, encontramos um outro grupo de "gente das motas". Nas sua trails "altas", com proteções para "varios" tipos de queda . Todos vestidos com fatos para a chuva e botas "dessas, de andar só de mota".
    Enquanto, desligava-mos os motores, já havia quem se apressa-se a sacar  cigarros de dentro de pequenos "tupperware" que traziam nos casacos (*), não fosse, a conversa não dar tempo para mais "um prego". (* maneira "estanque" de transportar tabaco em viagem)
    Olhei para o outro lado da estrada, neste compasso e não me intrepetem mal... nem sequer, de alguma maneira critica, mas lá estavam eles, a olhar meio superiormente "aparvalhados", com os seus fatos pretos com degradé para castanho, luvas e capacete a fazer pandã, caixinhas laterais de aluminio brilhante e equipamentos que dá para nos perdermos, para lá do fim do mundo e voltar... com uma "gaja" a dizer qualquer coisa como:
    - " depois de 200 metros , chegamos ao seu destino...".
    Claro que ironizo a visão, mas no fundo, olhando para nós, deste lado da estrada, com as motas todas cagadas, carregadas de sacos de plástico pretos (que protegiam a carga), fatos de chuva rasgados(ou improvisados), capacetes esquisitos e luvas de verão. Era no minino... romântico... o constraste ( as gentes das motas percebem o que estou a dizer, sem o minimo de ironismo!). Eu pessoalmente não tenho de curtir a "pinta" de ninguém, mas consigo perceber a "pinta" de qualquer um ( até as mais excentricas!). Será... que eles percebiam que esta era a nossa "pinta" sem nos "julgar", como eu lhes estava a fazer a eles?
    E foi deste monólogo, meio perdido no pensamento, ( que, de repente... ganhou uma dimensão exagerada, com o "off" dos nossos motores"!) que vi as "altas" trails arrancarem silenciosamente, e desapareçerem no acesso à estrada. Fui chamado então para a conversa do almoço.
   
    Paramos 5 kms mais à frente, num café à beira da estrada, com esplanada e... sol. Pode ser o pior sitio do mundo, mas neste momento e quando os copos de "cerveza" são postos em cima da mesa, reluzentes num doirado quase artistico, pareçe-me ser um pequeno paraíso.
    As mesas á volta estão cheias de tralha, capacetes, fatos de chuva. A malta não esperou para se pôr em t-shirt e há quem tenha as botas a secar ao sol.
    Estou quase deitado numa dessas cadeiras de plastico, com um sol quente na cara que me faz cerrar os olhos. De fundo, oiço os "estalos"  dos motores como que a  " esticar os ossos" antes do descanso .
    Tudo o resto à minha volta, é-me "quase" alheio, ate que... alguém me pergunta o que quero comer numa "língua estranha" ( ou pelo menos, prefiro considerar estranha!), aponto que quero o mesmo de quem está ao meu lado, e mais uma rodada de "cervezas".
    E assim foi antes de almoço, com a segunda rodada a vir ajudar a me endireitar na cadeira, ganhar "vontade" de enrolar um cigarro e olhar á minha volta. A casa que se encontra á nossa frente, tem uma cor quente mas uma fachada "fechada" sem janelas, com uma vergonha qualquer, que parece  esconder do mundo  "pecados e prazeres". De resto,e ao redor, o "estado de espirito" é geral, pagou-se caro a chuvada de ontem, e este sol é um premio merecido, até para nós, que estamos só de passagem.
    As motas entretanto já dormem, para ali, num profundo silençio...O cenario perfeito, em frente a esta reles esplanada, que poderia ser o pior café do mundo, mas neste momento é realmente um pequeno paraiso.


    A viagem seguiu após o almoço, mas estamos parados numas bombas e ainda não andamos mais que 10 kms.
    Aguardamos, sentados ao lado das motas, que o telefone toque. E ele toca, para "divertir" ainda mais a situação:
   
    -" Aonde estão??"
    -" em sentido contrario ao teu!"
    -" mas que raio...??"
    -" porque tu te enganas-te na saida, depois das portagens"
    -" foda-se não acredito..."
    -" pois, pareçe que sim pá!" 
   
    O fim do telefonema, foi mais rápido que a gargalhada de quem falava deste lado ao telefone. Resta-nos esperar.

    Vou buscar umas "latas", para bebermos alguma coisa, enquanto tento orientar a lógica sobre esta paragem forçada...
   
    Saímos do café onde almoçamos, mas para nos despedir-mos deste que foi confortavelmente um "bom porto para parar", ainda queimamos um cigarro enquanto atulhávamos as motas, com o material de chuva. Estavamos rendidos ao tempo. Arrumamos os "casulos" e "pusemos" de fora as "tradicionais" gangas.
    Logo após arrancar, apanhamos uma portagem, e como só tinha um balção aberto, fizemo-lo á vez. O primeiro pagou e arrancou, o segundo igualmente , só  com a diferença de...ter-se enganado na saida e acabou no sentido oposto á nossa direção. Com isto valeu-lhe mais uns 20 kms e certamente o "emblema" do "no smoking after lunch" para o resto da viagem.
    Estima-mos, que não deveria demorar muito, pois certamente ia ainda aproveitar a "acelaração" que o levou para o "outro lado" e fazer o caminho de volta de punho enrolado.
    E assim foi ! Quando chegou (dentro do tempo e da "aceleração" estimada por nós), teve ainda de pagar uma rodada aos restantes. Não demorou o tempo suficiente, para o pudermos culpar de tudo até ao fim do dia , mas,  não o ia-mos deixar esquecer ...
   
    Voltamos à estrada e, agora por união, perdemo-nos "todos" outra vez... ou melhor, mais duas vezes. Na realidade, não nos perdemos, apenas  mudamos duas vezes de "opção de percurso", por termos "falhado" as saídas que queriamos.
    Mas no fim, acertamos na sorte e acabamos a rolar numa estrada cada vez mais litoral.
    O horizonte, durante largos kms, foi preenchido por terras irregulares "povoadas" de enormes ventoinhas, que rodavam, criando a ideia da potençia que gera o esforço sobrenatural,daquela enorme pá.
    Enganaram o Dom Quixote, e foram "divertidamente",por algum tempo, enganando-me a mim, enquanto passava-mos junto aos seus enormes pés, como pequenos insectos num campo de girassois, todos virados "para o vento ".

    Paramos, durante a tarde mais duas vezes , com tempo para atestar e respirar um pouco. Tudo sem grandes pressas até chegarmos ao litoral, e "batermos" com o mar. A estrada, então, tornou-se mais sinuosa e "frequentada", banhada por aquele  "espelho", e enquanto fomos fazendo as colinas num movimento paralelo à linha de água, iamos roubando imagens de vistas únicas daquele "velho gigante".
    Começamos a encontrar "comunidades de surfistas", parques de campismo e restaurantes do mesmo tema. Cada vez mais e mais "sítios" relacionados com desportos náuticos. Surf, windsurf, kitte surf ( este último, talvez, o que se repetia mais vezes)... e mais uma serie de nomes anunciados em placas à beira da estrada e em fachadas semi improvisadas de madeira com uma construção "tosca".
    Acho que todos pensamos o mesmo... "aqui e um sitio com "boa onda" para ficar". E realmente era engraçado! Os estabelecimentos iam-se estendendo ao longo da estrada nacional, em casas de um lado e de outro.
    Restaurantes, lojas, parques de campismo, escolas, banglalows, cafes e ... ate uma farmácia com uma máquina da coca-cola à porta. Tudo entre a folhagem das árvores e muros baixos  que iam aparecendo  bem integrados na paisagem.
    Mas por mais agradavel, que fosse, este sitio "com cheiro a mar", e mesmo sem compromissos no destino, levava-mos no pensamento, chegar ao "rochedo", que já se ia "mostrando" lá ao fundo.

    As praias, aos poucos, começaram a ser substítuidas por passerelas de betão "cravadas" com gruas, onde enormes navios se "encostavam" para descansar .
    A noite, entretanto, começava, a "cobrir" o céu. Um entretanto que durou pouco, e em menos tempo do que eu "esperava", rolávamos de noite, num subúrbio cada vez maior... com cada vez com mais transito.
    As placas iam passando e dava-me a sensação que seguiamos sem direção, mas era evidente o nosso destino. Destacava-se num vulto escuro no horizonte, cada vez maior, pois estava cada vez mais perto.
    As rotundas, sucediam-se, fazendo com que as motas , esticassem e encolhessem o movimento "conjunto entre elas" de uma forma desorganizada, só a "curtir" a    pressa de chegar á proxima rotunda.
    Sabiamos que não ia-mos arranjar nenhum buraco, aceitavel e barato para dormir no "rochedo", então decidimos parar na povoação anterior que faz "la linea", e tentar arranjar uma cama.
    Acabamos por ter sorte, procuramos pouco e sem paciençia. Acabamos por encontrar, um sitio simpático e o "suficientemente em conta", para despejar a tralha e ir comer alguma coisa. Tinha, inclusive, parque para as motas, se "trancassemos" dois carros de outros hóspedes. Mas como sabiamos que, amanhã, tinhamos de arrancar cedo, o lugar pareçeu-nos ideal.
   


    O jantar vem em diversos pratos, que nos vão colocando na mesa, numa simpatia "quase" verdadeira. Cheiros fortes e molhos de cores estranhas, enchem a mesa em iguarias orientais. O sitio não tem grande aspecto, mas foi uma sorte!
    Antes de meter o garfo, no prato de arroz branco, vou tentar situar-nos na história.
   
    Largamos as coisas nos quartos e seguimos, para  o rochedo "imponente", talvez a terra inglesa mais "solida"( divirto-me com esta descrição romantica deste "pequeno pais". A verdade é que acenta bem, ao seu ar pitoresco).
    Mas dizia, quando passamos a fronteira (porque tem fronteira!), já se sentia pouca vida, na pequena cidade. A noite já ia tarde, para os horarios que por cá se fazem, e tirando as bombas ( Com preços baixos , devido às taxas), sentia-se o pouco movimento.
    Encostamos as motas e fomos á procura de um sitio para comer. Aqui não há "cerveza", só "pints", mas as portas dos pubs ja estão fechados, e tirando um ou outro que já tenham passado a bares dançantes, não viamos aonde comer.
    Vadiamos um bocado pelas ruas, de capacete na mão ( o frio não deixava tirar o casaco), espreitamos as ruas e ruelas á procura de um restaurante, mas sem perder o fascinio daquele "sitio antigo". A esta hora, com as ruas vazias, deixadas num estado quase poetico, podemos dizer que esta cidade cresceu nas paredes de uma montanha, enraizando-se na pedra, com a segurança daquele gigantesco canhão, que do topo do rochedo, fiscaliza de olhar altivo, todo o movimento desta baia "historicamente" tão importante.
   
    De repente, avistamos um restaurante Indiano. tinha uma boa apresentação, com música ligeira que acompanhava a conversa animada de uma unica mesa com clientes tardios. Um de nós, entrou para perguntar se ainda serviam. Vimos, o homem acompanhar o nosso interlocutor á porta e percebemos que ainda não ia ser ali... mas a simpatia para forasteiros não pára de surpreender, na verdade, veio á porta para nos dar as direção para outro, que ainda estaria aberto "por estas horas".
     Agradeçemos a simpatia , com o homem a repetir do porta do restaurante:
    -"it´s very good sir, it´s very good...it´s where indian people buy indian food sir!...it´s very good!"

    Seguimos, mais ou menos as instruções,( ainda não muito convencidos do "It´s very good sir" e lá descobrimos numa rua quase ruela, o sitio.
    Tivemos de nos rir, era uma tasca indiana, com as paredes forradas a azulejos e um degrau desnivelado á porta
    O homem do balção, era pequeno com um bigode comprido (comico!) branco. Esperou um momento, antes de perguntar algo, e quando o primeiro se aproximou, perguntou, numa simpatia ate estranha, o que queria encomendar...
    Houve o silençio, ainda ninguem tinha pensado nisso. Eu por exemplo... estava encantado com a carne a ser grelhada numa mistura de cores e concerteza de sabores, todos eles, seguramente "picantes".
    O Homem percebeu a nossa isitação, e cortou conversa:
    - "everthing very good sir, try this... or this... very good sir".
    O silêncio passou..."-everthing very good sir"...Everthing very good, era mesmo o que queríamos, e mesmo sem entender bem o que podíamos comer,
não perdemos mais tempo.
    O homem mandou-nos sentar, na única mesa que o "tasco" tem. E começaram a vir diversos pratos, que vai colocando na mesa, numa simpatia que termina sempre com "sir" no fim da frase.
    Cheiros fortes e molhos de cores estranhas, enchem a mesa em iguarias orientais. O sitio não tem grande aspecto, mas parece-me que tivemos sorte!
    Antes de meter o garfo, no prato de arroz branco, já bebemos cerveja indiana (oferecida), comemos umas chamuscas "inchadas" e continuamos a provar varios molhos de varias cores, em tiras finas de massa fria.
    Tirando nós, o resto dos clientes eram indianos, que iam entrando e pedindo num inglês "colonial", os pratos que queriam, na maioria para levar.
    Bom! o importante é que tinhamos arranjado sitio para comer... e bom!
   
    O caminho de volta para as motas, depois de jantar, foi descontraído, de cigarros na boca, por ruas completamente vazias, e pequenas praças silençiosas ( nem um macaco conseguimos avistar!!!).
    Pegamos nas motas, que num ultimo esforço,atormentaram a paz dos poucos que se encontravam ali nas portas da cidade velha.

    A viagem até ao nosso hotel, foi felizmente rapida, e em minutos, tinhamos ocupado os lugares de estacionamento (bloqueando como previsto os tais dois carros) e sentamo-nos num banco de rua do outro lado da estrada.
    O rescaldo do dia já tinha sido feito ao jantar, por isso agora falamos de outras coisas. E quando se fala de "outras coisas". Soltam-se conversas, que... como se diz, vêem sempre aos pares, saltitando entre assuntos e opiniões
    Mas pela primeira vez, também se fala no cansaço do corpo, e... como consequência da hora da noite, isso começa a ser o assunto dominante.
    Combina-se então, como última conversa, a hora de saída, o percurso "mais ou menos" até ali e o depois "logo se vê".
    Para acabar "desdenhamos" do monte de kms que temos para amanhã. Mas sinto que todos sabemos que vai ser um dia longo.

    É com este pensamento que me levanto do banco (ou melhor, nos levantamos!). O transito já era escasso a esta hora e os carros passavam a "conta gotas", alguns mais animados que os outros.Olho discretamente para o predio à minha direita antes de atravessar,( já tinha tido este pensamento antes, mas agora confirmo de pé...)  Pareçe mesmo a casa do terror da antiga feira popular. Inevitavelmente, viajo no tempo e visualizo a "outra", que nos enchia de uma expectativa "medonha", só de ouvir os barulhos, ainda lá longe, no meio dos carrinhos de choque.
    lembro-me que a fila para entrar era sempre "comprida" e como o meu pai tinha por costume ir dar primeiro uma volta, guardava-se "essas coisas" para depois de jantar.
    Logo quando voltávamos, a expectativa era ainda maior, ajudada pela noite, que fazia as luzes criarem um ambiente ainda "pior". Até os bonecos se mexiam de uma maneira diabolicamente naturall, disfarcando aqueles movimentos "mais" mecânicos. Tenho noção que enquanto durava a espera para entrar, tentava não olhar, para não mostrar medo( disfarçando com "piadolas", na conversa com os miúdos que estavam comigo). Mas esperar naquela fila, depois de jantar, já com a noite caída, "matava" qualquer um.    Havia alguns (miúdos) que desistiam mesmo ali à porta, amedrontados pela bruxa que mexia pacientemente o caldeirão na varanda do edificio.
    Nós, os que conseguiam ultrapassar perigos e obstáculos, fugir de zombies e vampiros, saiam por uma porta que rodava. Eramos recebidos pelos os adultos em euforia, que tinham assistido cá fora  ao percurso, por televisões a preto de branco, "captado" por câmaras " que filmavam no escuro".
     Claro, alguns choravam o caminho todo, e esses chegavam empurrados no meio dos grupos. Eram quase sempre os primeiro a sair,da ultima sala, geralmente seguindo em passo rápido para disfarçar a "fraqueza" nos joelhos.
    Eu enquanto esperava na fila, olhava isto tudo e ficava sempre com a sensação que levavam passo rapido porque se tinham "borrado" nas calças de medo e divertia-me a imagina-los a correr para o WC ( que era lá do outro lado!) ainda a "bufar" do cagaço que tinham apanhado..
   
    E foi do outro lado, não na feira mas da estrada, que um "companheiro" de viagem ( desta e de outras!) me chamou:
    - "então vens ou não?"
    Os outros já tinham atravessado, e eu estava ali especado, a olhar aquela casa, que por momento foi ganhando uma dimensão irreal,como fundo de cenário do meu pensamento.
    Acabei por arrastar a história, arrastar-me a mim (e arrasta-los a vocês também agora!) ...talvez devido ao cansaço ou talvez devido a "outra coisa qualquer".
    Abanei a cabeça, em sinal de confirmação e dirigi-me para a porta do hotel, onde ele ficou á minha espera.
    - " Foda-se, já reparaste que aquela casa é mesmo parecida com aquela que havia na feira popular? "
    Sorriu... o que o fez entender, que eu sabia exactamente do que ele estava a falar. Por isso continuou...
    - " Aquilo era lixado!!! lembras-te??"   
    Parei mesmo ao lado dele, antes de entrar, acabei de abrir a porta que já estava semi-aberta, bati-lhe com a mão no ombro e disse-lhe:
   
    - " e a bruxa pá... a bruxa e a merda do caldeirão."
   
    A gargalhada assustou o dormitar do homem da recepção e ecoou na pequena sala de balcão alto. Penso que ainda disse alguma coisa mas... não nos apeteceu traduzir, limitamo-nos a levantar o braço e dizer: " Então até manhã..."


( continua...)

500 (2ºparte) a seguir...


Thursday, November 1, 2012

Day of the Dead


Hoje, era um dia bom para estar em Tijuana. Esvaziar uma garrafa de tequila sentado com uma morena, numa qualquer esplanada "suja". Ver os cortejos passarem, até chegar a noite "alta", e então, juntar-me à festa, para percorrer as  ruas, deambulando ao som de guitarras  e tambores, e gritar o meu paganismo, saudando os que já partiram, e brindando aos que cá estão.
E mesmo no fim deixar-me morder por um escorpião, sabendo que partilho o mesmo veneno, acabando a receber a madrugada, sentindo o sabor da paixão, "consumida" da pele com uma mistura de sal, tequilla,  e poeira vermelha do deserto... onde vemos nascer o primeiro sol do ano.


"Señorita, vamos a bailar?... "


( DayOfTheDead stage: Creedence Clearwater revival )




Sunday, October 28, 2012

today on stage: Amor Electro

    Nem é bem (ou mesmo nada!) o estilo de musica que costumo ouvir, mas que-se foda!!! Nesta altura em que procuramos "tantas vezes" as palavras que "gritem" o que pensamos. Também "podemos"  ouvir boas musicas em português... com bons músicos, em bons projectos.
    Na realidade, facilita estas noites "longas" onde vou queimando cigarros enrolados, e tentando brincar com frases, mas que tenho( gosto desta imagem!) demasiados retratos, no meu pensamento.

    Sítios, estradas, momentos, tudo vai passando.
    Tento e vou alinhando com preguiça, as ideias, mas não "vejo" o cenário. Cheguei lá e deambulo na historia (perdi-me ao pé da praia, na ponta da minha caneta!), por isso volto... vou "ali" beber um café... mas... sei como sou! vou e acabo por me perder outra vez .

    Lembro-me  de algo!
    Depois de um nome !
    Acabei por descobrir esta musica.

    De novo!!!

    Momentos, sítios, estradas, pessoas, cheiros.... retratos alinhados, que me fogem no pensamento.
    Dou por mim a beber café numa mesa pequena de duas pessoas. Eu... e a minha sombra, que me faz companhia, na cadeira, à minha frente.
    De repente!!! O cheiro do teu cabelo, veio "sorrateiramente" no vento.
    Debruço-me  e toco-lhe ao de leve. Os cabelos, vão-se entrelaçando nos meus dedos. Num "emaranhado" de linhas,(como me disse uma vez uma "ciganita"), daquelas que me marcam o destino na palma da mão.
    Disse-me isto, e de seguida, em vez de me largar a mão, fechou-a e apertou-a com força . Apertou com tanta força que a palma da minha mão ficou ainda mais "enrugada" de linhas.
    Fiquei a saber que era impossível enganar o destino, assim como é impossível enganar os cheiros , enganar o sincero do brilho dos olhos, ou enganar o "quente magnético" de duas peles, no ultimo momento antes de se tocarem.

     Este pensamento desperta-me e quero arrancar (sem ir a lado nenhum!).
     Mas...Já sei onde vou parar! Ao pé do mar... onde vou parar sempre, sempre que quero discutir com a minha alma,ou melhor, com aquele bocado que não vendi, nem perdi no deserto. Aquele bocado que me faz viajar por "aquelas" estradas, que me faz querer conhecer "aqueles" sítios, que me faz querer ver "aquelas" pessoas.
    Se calhar, estou enganado, e isso, é o bocado da alma que "vendi", e não me resta alma nenhuma!
    O que me faz pensar, que... por vezes, posso só estar a discutir com o mar!!!

    Resigno-me, que se lixe!Não duvido nem por um momento da força do velho Neptuno.
    Hoje vou acabar, amanhã faco-me novamente à estrada.


Friday, October 26, 2012

Route 66, maior que a vida.

 Conheço o Nuno Lobito há já algum tempo, mas curiosamente, a paixão de algumas conversas que já tivemos, não foi a paixão "das viagens" ( à excepção, dos parabéns que lhe dei aquando a apresentação, do seu mais recente livro publicado).
 Certamente, um dia, teria todo o gosto de o ouvir contar histórias e experiências, de todos estes sítios por onde viajou, fotografou, visitou ou como ele lhe queira chamar.

 Há dias, um amigo enviou-me um link de uma noticia, da viagem do Nuno pela Route 66. Andei a explorar e revisitei muitos sítios por onde tambem passei. Mas a "alma" das sua fotos, fez-me lembrar muitos outros (sitios e momentos), que guardo na memória de uma experiência única.

  Infelizmente (ou não!!!) a minha Viagem ficou por contar, perdeu-se num disco rigido "queimado". O que sobrou foi um ou outro capitulo, que alguns amigos partilharam "por aí", e umas folhas amachucadas que guardam "milhas, notas  e pensamentos".
 Felizmente o Nuno, com uma alma enorme de viajante "rodado", contou a dele ( de uma maneira muito mais "profissional", do que eu algum dia conseguiria, como é obvio!), com o seu talento de contar uma historia, resumindo-a num momento exacto, "congelado" no tempo.
 Qualquer dia, dou ai uma volta pelas fotos e folhas, e tento fazer um resumo ( ou melhor, um rewind!) "animado". Apesar de, sem falsa modestia, saber que não vou dizer nada, que já não tenha sido dito por tantos outros: Uma viagem que cumpre todas as expectativas, que nos enche a imaginação com experiençias, numa cultura propria ( que nos "tatua" a alma) de momentos, sitios e detalhes unicos. Tudo isto, com um cheiro verdadeiro de aventura.
 Por isso, nada melhor que um Português, com a "curiosidade de descobridor", para nos mostrar um bocado desse  espirito, captando-a romanticamente em"retratos".



Wednesday, October 24, 2012

H.B.K.


    Por vezes temos a perfeita noção que o tempo passa, cada vez, mais rápido. Alias dizemos até que voa, devido à sua "liberdade" de velocidade.
    Mas na realidade isso é mentira ( ou desculpa, como quiserem!)... O tempo passa à mesma velocidade que sempre passou.
    A "verdade" é que o tempo, é uma imensidão infinita de espaço, num movimento ininterrupto onde, por vezes, nos apercebemos que o "agora" num piscar de olhos já foi ontem... mas, e, felizmente estamos "aqui" no amanhã!
    Engraçado como a minha geração foi educada, para sermos "diferentes", bafejados pela "liberdade" e pela "novidade". Mas, por vezes, abusamos e usámos por demasia os argumentos. Numa sede de protagnonismo "inchamos" a liberdade e vamos sendo ultrapassados pela "novidade". Resta-nos a "tradicional" personalidade e a sinceridade da relação, chama do motivo mais fidedigno da fé do ser humano.

    H10K


Thursday, October 18, 2012

today on stage: Paus


                            ( "mostra-me o meu, mostro-te o teu.."  "o fim é o principio básico".)

    Olhamos de frente o egoísmo com que fomos educados, e esbarramos frequentemente contra altas paredes, que parecem "sempre" tão fácil para Alguns passarem.
    Tentamos vezes sem conta, ultrapassar as sucessivas barreiras, ganhando uma noção de Outros à nossa volta que esbarram contra os mesmos obstáculos.
    No princípio apenas... vultos e silhuetas !
    Mas com o passar do tempo, a neblina " egoísta " que parece nos isolar, começa a dissipar, e começamos a ver nitidamente Outros semelhantes a Nós . Também eles encostados de costas contra o cimento, apenas a ganhar fôlego, para voltar a tentar salta-lo.
    Esta cadência de obstáculos, faz-nos ficar cada vez mais rodeados de corpos, num espaço confinado de paredes, onde todos, com a sua "rebeldia" se recusam à inércia, mesmo asfixiados por uma acumulação da falta de valores.

    - Alguns
    - Outros
    - Nós

    Novas classes sociais que se vão formando, em gritos mudos.
    Movimentos de um mar tumultuoso, onde a evolução nos navega cada vez mais para um sítio primitivo.
   
    A olhar esse mesmo mar, está numa cadeira aqui ao lado, um velho sentado entre duas canas de pesca "velhas", curvado, como se espera-se ouvir o momento exacto, quando o peixe, morde "inocentemente" o isco.
    E é, no silencio dessa espera, que o oiço murmurar alguma coisa sobre a nossa evolução ser feita "disto": "... de um andar para a frente num movimento "quase" circular".

    Talvez sim... ou... Talvez não!!!!

     Um inconformismo que se "mistura" com o cheiro do mar (mesmo aqui à nossa frente!), lembrando-nos da nossa verdadeira importância, da nossa verdadeira dimensão, da nossa verdadeira coragem de enfrentar o desconhecido. 




Saturday, October 13, 2012

500 (1ºparte)


   Deixei para trás o labirinto da cidade a adormecer na noite de "semáforos já vazios". Mergulhei agora no tempo e "rolo" num cenário escuro, que me deixa ver os metros que a minha luz da frente consegue perfurar no negro.
   Gosto sinceramente de conduzir à noite... mesmo "pesando" o desconforto do frio, o perigo (que é mais sorrateiro!), e todos os inconvenientes imagináveis de condução nocturna.
  Gosto desta calma de "rolar" no escuro, com o cérebro concentrado no pouco cenário. Antevendo o que vem do negro, jogando com o perigo. Concentrado somente na própria condução. Com um permanente "pequeno" frio, que nos alerta para não nos sentir-mos demasiado confortáveis  e nos mantém despertos . 
  Tudo isto enquanto o barulho do motor se mistura com a visão em túnel e nos embala a revolta num som de alma semelhante aos blues com gritos de guitarras sofridas e vozes amassadas pelo viver.
( Curioso: parece que acabei de descrever o fado. Certamente será pelo "sofrer vivido" de um povo. Deve-nos soar, sempre semelhante, ao ouvido humano!)
Olho o céu!!!
É a melhor maneira de me localizar...( não no sítio! mas nesta história, entenda-se!).
Olho o céu desconfiado!!! Desconfio da falta de mosquitos colados à minha viseira, que chega noutras noites,  a ser um verdadeiro "chacina" de insectos . Mas a estrada ensina que em dias de poucos mosquitos "drogados", apanhados no vício da minha luz dianteira, se adivinha chuva.
Valeu-me um pressentimento, que me foi sussurrado por uma morena, e me fez enfiar o fato de chuva antes de sair da "toca".
Bom!!!  tenho que voltar a olhar  o céu para me voltar a localizar, que já me perdi.

Olho !!! E ele..."desafiadoramente", olha-me de volta , com um "opaco" escuro, que não deixa ver nada... E "quase" como brincadeira, deixa cair os primeiros pingos, que me vão cobrindo a viseira. Pingos, pequenos de mais para escorrer, que servem apenas para denunciar,  o que me espera.
Acabei de passar uma placa qualquer! Mas não olhei... 
Quer dizer... olhei, mas não li. Iá "aqui" atrapalhado, nestes pensamentos. (Espremidos... resultaram somente numa dúzia de linhas) mas por momentos ocuparam-me a concentração dividida com a condução, e... passei, olhei, mas sinceramente... não li!!!
Tenho esperança que fosse uma placa de informação, de preços de combustíveis ou outra treta qualquer ( que justificam os contractos milionários que nos rebentam economicamente, beneficiando aqueles que são chamados  de: "os mesmos").
Bom (agora sem teor político à mistura!) talvez mais à frente  me salte outro sinal do escuro e me  diga onde estou. Entretanto o aguaceiro engrossou a cadência, e agora já chuva, faz desperta no meu monólogo , o que acho ser o primeiro pensamento lógico "do saber o que já me espera".

- "Mas o que é que eu estou a fazer aqui ???"
   (Pronto!!! Finalmente com esta pergunta, vou conseguir localizar esta história!)
Longe "desta" chuva , "desta" noite que começa a ser fria, "desta" viseira molhada que vai reflectindo às poucas luzes que cruzo.
À algum tempo atrás um grupo de amigos , convidou-me a juntar a uma volta organizada por eles. 
A volta têm pouco de obrigações. Vários destinos são jogados em sugestões, que vão fazendo desenhar mapas, sempre mal riscados em folhas de papel. Depois no dia da partida, decide-se, e vê-se o destino que pode sempre  "encolher" ou "esticar". 
Tirar o máximo de proveito da estrada, sem grandes "obrigações ou preocupações". Rir, conduzir, fumar uns cigarros enrolados. "Entrecalando" paragens de euforia, onde se "soltam" assuntos que sem grande preocupação se tornam interessantes, com kms de monólogos "concentrados" no alcatrão que  foge por debaixo de nós!

O próprio nome que deram a esta volta "anual", não tem muito mais do que a importância do próprio número no "gap" entre o número anterior e o número seguinte. Número que se transformou em nome, e com o qual se  "baptizou" um cão de loiça, que ficou como mascote do próprio evento.
Basicamente, numa sinceridade cómica, o "espirito daquilo" pode-se "fundir" e resumir bem  neste meu último parágrafo. Tudo com uma envolvência simples dos laços que se vão criando nas histórias com "piada" agora e nas histórias com "piada" para sempre.
O ano passado tinha sido assim. Este ano assim seria!
Aceitei o convite. Faz sempre bem à alma, deixar por instantes, de fintar carros, e fazer estrada... estrada aberta. Kms que realmente passam...que realmente são conduzidos, e... que não nos trazem aos mesmos sítios. 
Conduzir , sem fintas, sem semáforos. Conduzir e... sair daqui!!!!!!

   No dia da partida, (hoje de manhã!), as "linhas cósmicas" não se estavam a conjugar para eu puder "arrancar" também (linhas de nós soltos. Atacadores que andamos todos a tentar atar!). A "excursão" partiu então. Por curiosidade, sobe mais ao fim da tarde, por onde andavam. E "percebi" qual a vontade que ainda tinham para andar.
  Com o "fechar" da noite, as "linhas cósmicas" voltaram-se a conjugar no "seu total"... e todos os cenários pareciam outra vez convidativos ... até possíveis!!! Dando força àquele pensamento que certamente já ocorreu a tantos, tantas vezes.
-" se desse!! se calhar!" 
  Imagens, mapas , cenários com cerveja e sem cerveja, números e kms, todos esvoaçados em pensamentos, delineiam, o que o nome de uma cidade numa mensagem marcou como destino.
Depois é fácil dar por nós em cima da mota , já em plena viagem! Disparados!... Tudo aconteceu a uma velocidade acelerada, tudo se conjugou perfeitamente, e temos a plena noção, que estamos, no sítio certo, à hora certa, a fazer o que de alguma maneira "quase" cósmica estava "correctamente" definido ( -podia simplificar! e dizer só, que estava bem comigo próprio, mas tinha muito menos piada!) 

   Voltei ao sítio do texto!
A chuva não abrandou com os kms, as placas trouxeram-me o sítio onde estou, mas nem por isso fiquei mais perto do meu destino.!
Parar debaixo de um viaduto mais iluminado, parece-me a melhor opção para conseguir enfiar as "mochilas" nos sacos de plásticos pretos , selados a fita cola.
Não posso deixar de rir, a olhar para a mota, "carregada" de sacos do lixo. Até numa visão "tradicional" ( não queria usar o termo "old school"!). Certamente existia uma "versão" muito mais "impermeável" para levar a "carga" nas motas. Esta é uma ideia "rudimentar", de quem ainda não se convenceu a comprar um saco estanque ou umas malas impermeáveis, que compensam, simplesmente, cada vez que calçamos  umas meias secas.

O meu voltar à estrada, é festejado com mais chuva. Daquela que nos leva a pensar indignados: mas "isto" é só para mim!?!?! 
E realmente não me cruzo com muita gente na estrada. A noite adensa-se naquela cortina de chuva, e sei que agora começo a depender muito mais  "da sorte". Com isto os sentidos aguçam-se , num  sentido de sobrevivência corajoso que luta contra o "desconforto". 
   Cruzei a fronteira do reino e... parei na primeira bomba para atestar... 
Parar para pagar menos, e não dar nenhum "aqueles", que nos "esfolam" o ano todo...Mas acabo a dar um "bocadinho menos" aos mesmos deste lado!!!
Irónico... no mínimo, uma tragédia... no máximo "da nação".

   Na bomba a cara do empregado solitário, é explicita o suficiente para deixar adivinhar o que vai dizer num sotaque "misto".
-" Hoje não é boa noite para andar de mota"
  Olho para ele com um olhar de quem é uma "prova de facto". Tive quase vontade de retorquir a "esperta" constatação mas,  os meus Vans (como seria de esperar! ) revelaram-se, não muito próprios para a chuva... (Culpa totalmente minha confesso!!!) e dão, a tudo o que eu faço com este fato de chuva "metido" , um ar muito pouco "sério".
Optei então, por pagar e perguntar... o que não me servia para nada.

-"Então mas esteve o dia todo assim???"
O empregado da bomba, novamente no seu sotaque "misto",  solta mais uma constatação que não apetece também, nada ouvir.
-"Esteve a chuviscar o dia todo, mais tarde começou a chover, mas agora é que está pior..."

Tenho de sorrir... houve uma "merda de uma linha" qualquer que se "desatou"...
Pago e enquanto atesto a mota oiço a chuva "crispar" no chão.
"Pois... agora é que está pior." relembro!

Não estou tão longe para pensar em outras hipóteses. Por isso, resta-me "galgar" um bocado menos de uma centena de km até à cidade. Depois só tenho de esperar que oiçam o telefone, porque não faço a mínima ideia em que buraco se meteram. 

Os últimos km foram "sofridos". Daqueles que podem ser mais 5 , 50, 100. Mas, mais que a distância, são lembrados pela "dureza". Uma sensação que fica quando o frio já ganhou aos casacos e às costuras das luvas.

Quando pego no telefone com a mão gelada, tenho o corpo, a vista e a alma literalmente cansados. Por isso refugiei-me debaixo de umas bombas "desligadas" logo na entrada da cidade. 
   Enquanto o telefone chamava, os músculos iam "refilando" à vez.
  Felizmente atenderam do outro lado, e percebi em dois dedos de conversa que tinha andado demais para dentro da cidade, eles "por causa do tempo" tinham desistido no hotel mesmo à entrada.
   Era mesmo aí que me apetecia ter desistido também e vai ser mesmo aí que vou desistir (por hoje!). Essa ideia deu-me, ironicamente, as forças para voltar a enfiar as luvas encharcadas, meter o capacete e "voltar para trás". A chuva deixou de importar, face à vontade que tinha em chegar ao sítio onde queria me "deixar desistir".

   À chegada, personagens "já" secas, mas também "amassadas" pelo tempo, esperavam-me numa alegria originada pela surpresa. Certamente foram acordados pelo meu telefonema. Desligo a mota, oiço gargalhadas e uma frase antes do primeiro abraço de "boas vindas":


   "- Man... tu tens um problema !!!" 
   "- Pois tenho pá... tenho de deixar de andar de ténis à chuva..."