Monday, February 24, 2014

The path...

Sometimes it is difficult to find a path between dreams, nightmares and illusions.


(street art: Ernest Zacharevic)
  But personality makes you strike back, using whatyou have to survive and fight a system of liars that are made to push you down. The truth is that they are more afraid of the freedom we have, than their own rules and standards
    - Pathfinder-


(pic by: Josh Kurpius)

  

Saturday, January 18, 2014

Ler o Steinbeck, é mais do que ler uma narrativa de frases bem estruturadas e ideias cativantes romantizadas por uma rebeldia artística, é sim, ouvirmos histórias contada de uma maneira pessoal, que nos envolvem nelas, indiferentes ao espaço temporal, físico ou geracional. Consegue, como se sentado à nossa mesa, acabar por nos arrastar pelas palavras, para dentro de nós próprios, expondo um "sufoco" por Liberdade, que nunca se irá resumir aos tempos, às eras, ou às modas, mas sim a espíritos "desajustados" que de uma maneira quase clandestina, consumem a realidade com uma vontade e velocidade própria.

“A kind of second childhood falls on so many men. They trade their violence for the promise of a small increase of life span. In effect, the head of the house becomes the youngest child. And I have searched myself for this possibility with a kind of horror. For I have always lived violently, drunk hugely, eaten too much or not at all, slept around the clock or missed two nights of sleeping, worked too hard and too long in glory, or slobbed for a time in utter laziness. I've lifted, pulled, chopped, climbed, made love with joy and taken my hangovers as a consequence, not as a punishment. I did not want to surrender fierceness for a small gain in yardage."
- John Steinbeck -




Thursday, January 9, 2014

Sonolência.

Entrei, mandei o capacete para cima da cadeira colocada ao lado da porta e segui pelo corredor de luz que furava pela janela, até encontrar o cadeirão da secretária. Relaxadamente sentei-me e fiquei imóvel, primeiro a olhar ( e ouvir!) a chuva que batia nos vidros em múltiplas gotas coloridas, pintadas pelas cores nocturnas da cidade, depois, deitei a cabeça ligeiramente para trás, e fixei o olhar no topo escuro da parede do fundo, na esperanca de encontrar por ali um "pedaço" de sono.
Nisto, algo me "capta" a atenção e faz-me reparar numa sombra que se prolonga da cama até escapar na claridade da janela. O seu contorno destaca-se pela delicadeza das suas curvas e deixa revelar um vulto que se move lentamente, como se espera-se ser descoberto.
Sabendo-me anestesiado pelo cansaço, levo a mão ao pequeno candeeiro assente sobre o tampo da secretária, mas... mesmo antes de o acender, um raio fulminante rasgado de uma pedra de um isqueiro (parando o tempo!), ilumina por um longo instante um rosto pequeno e fino, que de seguida, se volta a eclipsar no mistério do escuro.
"Recupero" o tempo e acendo a lampada (que se revela pouco mais que uma claridade), mas percebo que nao o devia ter feito, pois revelei-me demasiado, abrindo mão da minha "posição", num duelo até agora mudo.
Sem hipóteses de me voltar a esconder, ignorei as regras e enfrentei o "outro lado" não abrindo mão do meu silêncio. Assim, tentei encontrar um olhar (entre a cortina de fumo que se expandia, numa "delicadeza ondulatória", da boca semi aberta!) e ao conseguir, não hesitei! Mergulhei nele, como se lançado num lago de alma, olhos nos olhos, tentado perceber se estava a invadir o pensamento de alguém ou a ser invadido por alguém no meu pensamento.
Concentrado nisto tudo, "habituo" a vista ao escuro, e vejo a nitidez da pele "sair" timidamente do revelo da sombra, deixando deslumbrar formas nuas, como as que imaginei mil vezes, sem tu saberes que estava a olhar para ti. Mas continuamos os dois inertes, perdidos um no outro, mergulhados num silêncio profundo e terrivelmente sensual. Tudo muda a esta profundidade (para onde fomos mergulhados!), os sons esvaziam-se na dimensao, as cores esbatem-se com reflexos de cinzento e os sentidos perdem-se da logica.  De tao fundo que estou, chego a ter medo que algum eco me roube os pensamentos.
Devia de me levantar, combater a gravidade e agarrar-te instintivamente. Provar a tua ameaça, tocar no teu corpo e sentir a tua carne moldar-se as minhas mãos. Mas não! Contenho-me, vincando os dedos nos bracos do cadeirão, o que me deixa perceber que tremes também! Vejo-o nos bafos nervosos, que vão encurtando o cigarro repentinamente. Claro que não mostras! Nada te faz cair a máscara com que me fitas com os olhos rasgados, e nem mesmo quando pousas a ponta "já fumada" no cinzeiro aos pés da cama, perdes por um segundo esse olhar que  reflete um misto de desafio e de diversão.
Pondero sobre qual vai quebrar primeiro o silêncio... Nunca eu! Penso primeiro. Nunca tu! Penso de seguida. E num impulso mais forte solto uma gargalhada .
Raios!... Maldita sanidade, que me deixa jogar tão bem este jogo!
Sem escolha, levanto-me, decidido a acabar com a história. Com o passo decidido e apressado, acendo todas as luzes pelo caminho numa sala que vai ganhando profundidade da sua pequenez, vou expondo partes do teu rosto, partes da tua pele, partes da tua expressão, partes do teu movimento... Vou-te expondo, como se te encurrala-se com a luz no teu próprio jogo, e quando atravesso a ombreira do quarto, numa última barreira sem porta, falta-me apenas uma luz, para te revelar deitada sobre a cama e apanhar-te suspensa num sorriso que te deixa semi-nua.
Infelizmente, um piscar de olhos, aquando a reconquista do quarto pela luz, da-te o instante para me escapares. E o meu  corpo, lançado por instinto no ar, para te agarrar, embate apenas num colchão vazio, coberto por uma cama "desmanchada" de lençóis remexidos.
Sou eu, agora, que me sinto encurralado pela luz que traiu o meu pensamento, e sou eu, agora... que procuro o escuro, escondendo a cara no amontoado de lençóis. Num último devaneio, ainda tento achar o teu corpo com as mãos, mas encontro apenas ar , sem o quente do teu calor ou o cheiro da tua pele.
Estoirado, vergado pelo cansaço, zangado com o destino, que sei... escrito por mim, dou-me por vencido!. Ao fundo ainda oiço o telefone a tocar, mas já não faço nada para o atender, deixo-me ir no seu som, misturado com o barulho da chuva que agora, com uma forca invulgar, "crispa" contra os vidros, como se soprada, por um deus qualquer, que se diverte à minha janela.



O telefone persiste, e o seu barulho desperta-me do momento de sonolência.
Sento-me na cama, esfregando os olhos que demoram a acostumar-se à claridade e apoio o telefone no ouvido com o ombro, enquanto tento esticar as pernas "coladas" às calcas de ganga que secaram contra à pele durante a noite.
Sem conseguir (ou tentar!) perceber o que me dizem do outro lado da linha, reparo que a chuva deu lugar a um sol tímido que aquece o frenesim da cidade a meio da manha. Também percebo que dormi demais, e que o mundo não parou à minha espera, por isso limito-me a esperar que o monologo acabe, para o voltar a apanhar num horário mais tardio. Ao fundo da cama, num cinzeiro esquecido, uma ponta de cigarro faz-me voltar a mexer (num movimento acrobático para não deixar cair o telefone!), acho que tinha esperança que me viesse aquecer a alma, como um motor antigo que precisa de ser aquecido antes de arrancar, mas em vez disso, sinto o sabor dos teus lábios na minha boca, como um beijo de bom dia gravado naquela ponta apagada. Instantaneamente, sem deixar que o monólogo acabe, digo:
- " Desculpe, mas eu já lhe volto a telefonar."
Do outro lado, o momento de pausa, cortando um raciocínio que não teve tempo para não ser compreendido, serviu-me como uma resposta afirmativa. Desligo, mandando o telefone para cima da cabeceira e penso que um dia te disse que reconhecia o teu cheiro e o teu sabor em qualquer lado. Na altura, fingiste que não acreditavas, respondendo que tinha uma maneira estranha de amar... Na realidade, acho que tinhas razão, nunca me dei bem com os comodismos do amor, preferindo a explosão repentina e irresponsável da paixão, mas é assim que sei viver... é assim, rodeado pela muitas vezes ilógicas forças das paixões (sejam elas quais forem!), que aprendi a sobreviver aos trambolhões do destino, vencendo um mundo, que dá poucas tréguas a quem se recusa a viver "engolido" por ele.
Com este pensamento, levanto-me, deixo cair o cigarro dentro de um copo de agua meio cheio , procuro um casaco seco e agarro no capacete. Ainda olho o jarro sujo e vazio colocado na maquina desligada e penso que devia de responder "aquela" chamada, mas a paciencia foge-me, já que estou vestido, aproveito para sair e "matar" este vicio vulgar de cafeina, depois... depois logo se vê! Na verdade, o mundo so ganha alguma "ordem", depois do primeiro cafe da manha.