Monday, February 25, 2013

today on stage: Ratos do Porão


  O meio da minha adolescência foi marcado por um concerto memorável. Dia que todos os ratos urbanos e "lebres loucas" migraram para Almada, para ouvir ao vivo, aquele som da revolta que só conheciam das cassetes. Eu, ainda na fase de galo sem crista, lá fui indo "levado" com o "grupo da escola", por uma onda, que ia fazendo sair dos ghettos citadinos, aquela juventude no expoente da sua rebeldia urbana. 

  Podia-se dizer que a Margem Norte e a Margem Sul movimentava-se em pequenos grupos que vinham "aprumados" para a festa, num contrates de Doc Martins "reluzentes" e Doc Martins "raspadas" (ou cerveja vs vinho!).

  A rua que descia até à porta da Incrível, era uma mistura de loucura, revolta, garrafas, rebeldia, t-shirts meio rasgadas e "pégas" aqui e ali de rivalidades "à filme".
  Tudo envolvido numa adrenalina, que ainda não ia sendo captada na totalidade pela minha idade ( apesar de tentar "esconder" isso ao máximo, de peito inchado!). E por isso, foi a despejar as duas cervejas, que ainda me restavam escondidas nos bolsos do blusão (que levava amarrado à cintura!), que me deixei empurrar pela fila em direcção à porta do edifício.
  O som lá dentro, movimentava o aumento de adrenalina cá fora, e eu , meio apanhado pela cerveja que trabalhava a dobrar naquela idade, ia sendo cada vez mais "absorvido" por tudo aquilo.Tão absorvido que da fila passei para dentro da sala e... para dentro de um concerto que foi subindo de tom, envolvendo todos numa loucura onde o importante nem era a mensagem, mas a revolta que transcendia dela.
  A determinado ponto... O "Gordo" parou e perguntou lá de cima do palco num auge de bestialidade:

" Será que beber até morrer é solução?"

  Não sei porquê... ( e ainda hoje não consigo perceber!), aquela pergunta fez todo o sentido, para aquela sala cheia ( onde ironicamente, deduzo que os mais sóbrios, só tivessem "muito bêbados"!). Mas continuo a jurar (nesta mente de meio louco!) que "perdi" metade do juízo nesse dia, ou... pelo menos, optei por "nunca" o voltar a ganhar ( claro que o tempo e a idade, nos faz trair essas promessas da adolescência, mesmo que às vezes tentemos muito combater, essa cadencia que nos teima em apanhar!).

  Anos mais tarde, numas das temporadas em NY, vivi perto do CBGB (que já se encontrava numa fase mais "mítica" do que realmente "inovadora"). Por conhecer-mos pessoas em comum, conheci um dos sócios originais, que morava na mesma rua que eu.
Lembro-me do tipo( pois cruzava-mo-nos ocasionalmente na rua), com uma longa barba e cabelo branco. Frequentemente usava (se não sempre!) a "típica" t-shirt, já roçada, de letras brancas e delineadas do CBGB que se tornou a sua (do mitico bar!) imagem de marca. Falávamos cordialmente, e ele ocasionalmente convidava-me para "coisas" que se passavam no bar.
  Mas, curiosamente algumas vezes que trocava-mos mais umas frases que o normal, acabava por-me falar num concerto de Ratos lá ( no CBGB), e como aquele Gordo era "fucked in that fuck up head". Eu argumentava sempre que Portugal não era o Brasil, e que apesar da língua "igual", as diferenças culturais eram grandes, localizava Portugal na Europa, e mais uma serie de coisas, que pensando bem não deveriam interessar nada aquela personagem ( e que muito menos lhe faziam situar um país chamado Portugal, naquela santa ignorância egocêntrica dos Americanos)... Mas ele lá achava que fazia sentido ligar Ratos ao "sitio" de onde eu vinha, talvez, países à parte... tivesse alguma razão!



Monday, February 4, 2013

today on stage: Messias and the Hot Tones.

A primeira vez que ouvi o Messias , estranhei a "alma" genuina do outro lado do atlantico que durou um repertório inteiro e pensei: "Man... he´s got the blues".
No fim do concerto, já num ambiente marcado pelo fumo dos cigarros meio apagados nos cinzeiros, e do cheiro das garrafas vazias que se "amontoavam" nas mesas de uma sala que esvaziava num burburinho de gente a falar e motas que aqueciam com o "ar aberto",  "trocamos" umas conversas sobre motas velhas, harleys com estilo e inevitavelmente "blues". Percebi que a alma não era só do cantor, mas tambem da pessoa que cantava, numa envolvencia daquele estilo de musica com o "estilo de vida".

Felizmente, a crise parece não passar pelo Talento neste País de Maravilhas, por isso boa sorte com este novo projecto.

 

Bukowski

" Some lose all mind and become soul,insane.
  some lose all soul and become mind, intellectual.
  some lose both and become accepted "


Saturday, February 2, 2013

"Emancipação matinal"

Não tenho paciência para a "emancipação matinal" que justifica uma liberdade egoísta. A mim soa-me sempre a uma motivação para justificar as más opções que acabam a "escravizar-nos".
Prefiro os monólogos com o vento, e as vontades que se desenrolam no momento, como a estrada, numa sequência "real e cruel" onde as consequências são o seguimento das opções, caçadas por uma teia muito maior do que a lógica da responsabilidade ou a responsabilidade de lógica.