Sunday, September 15, 2013

Friday, September 13, 2013

...

     São 2 da manhã, um céu negro vai se desenrolado sobre nós, deixando ver nitidamente múltiplos pontos de luz que parecem "fura-lo".
     Sigo a luz de presença avermelhada que vai na frente, deixando-a abrir caminho num estranho dançar com as linhas "tatuadas" da estrada. Ao meu lado, um outro farol (a par com o meu!) ajuda a "iluminar" mais uns metros deste cenário pintado a "cor de escuridão", e logo atrás de nós, outra luz persegue-nos ao mesmo ritmo, fechando este pequeno grupo desalinhado, que persiste em manter um bom andamento.
    Estranhamente, pela hora, o ar é quente, e inunda a respiração dentro do capacete, enquanto aquece a pele nua das mãos e do pescoço completamente desprotegida e entregue a "este vento da velocidade" inundado por um calor inesperado de uma noite de principio de primavera. Mas talvez seja também este calor, que faz as motas fluirem nesta velocidade "agitada", fazendo-as "engolir", de uma maneira "quase" relaxante", quilómetros de uma estrada quase vazia, ou melhor, de uma estrada pontualmente ocupada por "vultos", que vão ficando para trás, com ultrapassagens que lhe contornam as formas e certamente... estremecem os vidros e os sentidos.

    Faço um esforço para me focar no caminho real, mas todo este ambiente "embala-me" o espírito, ao ponto de sentir o "afinado" barulho dos motores mergulhar os meus pensamentos numa espécie de túnel. Devagar, perco-me algures entre esta estrada e um outro percurso que-se desenrola em "rewind", não de um dia , não de uma história, não de um momento, mas de uma vida, de escolhas, e de... atitudes.
    Pregos num caixão , pregados  entre cigarros enrolados e garrafas meio vazias - hoje de cerveja, ontem de tequilla, amanhã de uma treta qualquer que desça pela garganta e que distraia um pouco em loucura, as mazelas da alma.
    De repente, erguido da escuridão pelas luzes dos nossos faróis, reparo num sinal gigante com placas de alumínio pintadas com diferentes cores de sinalização. Marcam diferentes distancias,  enunciam diferentes cidades (todas familiares para mim!) e apontam em  diferentes direcções, o que me dá a sensação de estarmos  num "estranho" centro de caminhos inexactos - caminhos que, como raios de sol, "rebentam" de um ponto central, e percorrem o espaço, estendendo-se nos seus diferentes comprimentos, como uma historia escrita em vários, incertos e apaixonantes capítulos.
    Assim, sou "mandado" pela imaginação para a "porta" de alguns desses sítios, ladeando essas "entradas" de personagens que se foram cruzando comigo, e que me mostraram o melhor e o pior de lugares, situações, tempos, e até de mim próprio e ... desta minha loucura, que peregrinou em milhas e quilómetros sobre ela própria, sempre procurando com rebeldia um "bocado" de sorte, fosse num balcão de um bar desconhecido, num cheiro de uma mulher quente ou naqueles "caminhos de terra e pó" marcados por uma nuvem que se levanta à nossa passagem, para depois, lentamente, assentar sobre o traço deixado pelo nosso pneu.
    Se calhar agora,  já não procuro tanto a sorte como antes, resignado às poucas vezes que me cruzo com ela, mas continuo a "vadiar" nos mesmos sítios, incentivado por uma rebeldia entranhada, que consome o tempo e me eleva na percepção do mundo no simples toque com a realidade.

    A atenção chama-me de volta para a estrada, que se desenrola numa folha de alcatrão por baixo dos meus pés, e deixo por agora os pensamentos. Vejo a mota da frente inclinar-se num movimento estiloso e acompanho-a instintivamente, em sintonia com a mota ao meu lado, o que nos coloca na faixa de saída (ou melhor, de entrada!) para umas bombas de gasolina que-se iluminam com caixas de luzes brilhantes, cobertas de vinis, que ostentam as cores da marca. Obrigatoriamente, percorremos um corredor de 50 metros, por uma ligeira inclinação de uma faixa, e já debaixo do "tecto" do nosso destino, paramos as motas.
    Dos quatro, apenas dois precisam de atestar as motas, enquanto eu e outro paramos, paralelamente, no pequeno parqueamento para paragens temporárias. O silêncio pauta o ambiente e apenas as nossas vozes, e os "suspiros" metálicos dos motores desligados, quebram a monotonia à nossa volta. Não há um único carro a abastecer ou estacionado, e dentro da bomba (de portas já fechadas!) o lugar da empregada está vazio, em frente a um intercomunicador mudo.
    Eles tentam mesmo assim atestar, mas como era previsível, não conseguem, por isso têm de esperar que apareça numa das portas (certamente de um escritório, ou algo parecido!) uma rapariga sem pressa. E apareceu! É tão feia, que nos apanha de surpresa! Até o seu andar meio apatetado do sono, a torna numa personagem sinistra, com uma sobrancelha única a cobrir-lhe os olhos vermelhos e cansados, certamente deste trabalho que já lhe sugou qualquer tipo de beleza e agora lhe suga o que resta da alma. Talvez pela visão, os meus dois amigos apressam-se a pagar a gasolina, atestam os depósitos e juntam-se a nós, no passeio.
    À nossa volta existe um vazio denso, apesar das muitas luzes que iluminam toda a zona comercial (estando o restante, tapado à vista, pela noite). Enquanto enrolo um cigarro falamos disso (e claro, da "gaja" feia!) o que nos faz ficar a "curtir", por momentos, a calma "quase" sombria que envolve aquele lugar. Engraçado como ainda há pouco me sentia "num" centro de um qualquer lugar e agora (um par de quilómetros mais à frente!) sinto-me "num" fim de um lugar qualquer. Partilho essa ideia e todos concordam, talvez o façam porque todos passamos pelo mesmo sitio ou então, talvez... porque são todos tão loucos como eu. Seja como for, estamos agora aqui, sentados no que decidimos ser, neste momento, um "fim do mundo", indecisos sobre quem vai dar conversa " da tanga" à miúda feia das bombas( para a convencer a vender umas latas de cerveja, pois a esta hora já é proibido comprar álcool por aqui!) e a "gozar",  por breves instantes, o tempo que parece ter parado para ajudar a esticar o corpo moído.
    No fundo, em boa verdade, o que rodeia o momento pouco importa, aqui, como em tantos outros sítios já passados, o mais importante é o sentimento do momento, assim como as pessoas que lhe pertencem e a própria razão de ele existir (mesmo que muitos não a compreendam).
   Mas porque o amanhã, será depressa um ontem preso a um tempo que não pára, reflectindo-se numa inquietude do mundo que não nos deixa parar por muito tempo, voltamos a "enfiar" os capacetes, e preparamos-nos para seguir. Ainda perguntei a mim mesmo, no instante antes de carregar no "start"; para onde iríamos a seguir, se já estávamos no fim do mundo, mas o barulho do "começar" foi quase sincronizado entre as motas, e num momento "rápido", sem conseguir completar a resposta à minha pergunta, estou lançado já para lá daquele fim, embalado novamente naquele vício, que risca e arrisca a alma, agarrado a este guiador, como se me agarrasse a própria vida.
  
    Com o passar dos quilómetros, o cenário começa a mudar,  os "múltiplos pontos de luz" multiplicam-se agora também pela planície acidentada, "aclarando" num tipo de aura o que nos espera mais à frente. Sinto o tempo aquecer ainda mais (como é normal quando entramos em zonas  urbanas!), o grupo começa a organizar-se para se dividir e seguir caminhos de ocasião separados.
    Assim, a primeira mota a afastar-se, despede-se com um toque de "nós dos dedos" entre condutores, e traça uma mudança de rumo, deixando-se escapulir por uma saída à esquerda que a faz desaparecer por uma ponta solta, que se afasta da linha cosida aonde continuamos. Mais à frente outra escolhe tambem uma diferente direcção, fazendo o mesmo ritual de despedida, e ficando para trás, como se largada no espaço. Sobram assim, duas motas, que "cruzam" mais para o interior da cidade. Mas depressa ( porque continuamos ao ritmo de viver!) somos separados por saídas diferentes numa das muitas rotundas da cidade. E é por causa do caminho que tomo que sou obrigado a parar  num semáforo no início de uma grande avenida. Aproveito para olhar o céu opaco, mas já não vejo as estrelas (o que mostra que já estou "rodeado da luz citadina"!) Vejo sim, deste ponto, numa linha recta, o meu destino, espaçado apenas por semáforos, que a esta hora são inconvenientes para a vontade de lá chegar. Por isso, desespero pela mudança de côr do sinal.

    Verde! Arranco, mesmo sem querer, envolvido por uma pequena ansiedade, que pode bem ser da aproximação do "destino" ou simplesmente pelo cansaço da hora! Mas sem perder muito tempo a pensar nisso, "galgo" a maioria dos sinais, oscilando entre os verdes e os amarelos. Sinto-me como se perseguisse rebeldemente algo que não vejo... talvez  um sonho. Na verdade sinto que o faço constantemente, mesmo que a pisar os limites, mas não me importo, é importante persegui-los (aos sonhos!) mesmo que possam acabar por se revelar bem mais culpa da loucura, do que realmente de algum propósito intelectualmente planeado. Na realidade acabam por valer o mesmo, sempre sujeitos à sorte do futuro.

    Vermelho! Não consegui "escapar" ao ultimo! Travo " em cima" e deixo acalmar o motor que vem numa rotação "gritante". Tenho o coração um pouco acelerado, e a respiração oscila entre o esforço de uma pequena corrida e a adrenalina de um pequeno "abuso". Olho à minha volta,  abro a viseira para ouvir a cidade ( que neste momento, por causa da mota, me ouve mais a mim!), e realizo que estou sozinho. Penso nos que seguiram em "direcções diferentes", com a certeza que também eles perseguem e perseguirão alguma coisa.

    Verde! Sorrio... Felizmente sei que a loucura tende em atrai-se, por isso  havemos de nos voltar a encontrar. Até Breve.
(photo by#Garcia#Hated of the world)

Saturday, August 31, 2013

today on stage: Tape Junk



Porque hoje já é sábado...
Porque há muito tempo  não "postava" nenhuma musica...
Porque vale sempre a pena ouvir e divulgar boas bandas nacionais...

Sunday, August 11, 2013

Momento


    Por vezes, quando tento imaginar um "quadro" perfeito, envergonho-me com a minha criatividade. Peco pelas linhas simples em cenários simples, sem ostentações ou excessos de vontades e quereres.
    Acabo por fugir para o mundo, de um mundo cada vez mais igual, onde o objectivo é a ostentação ou o protagonismo, simples e rápido, de ter feito, estado ou visto, mesmo que tudo isso seja em "pacote", conduzidos em fila indiana, como personagens de um filme que sofrem mil situações extremas, mas que nunca se despenteiam ou perdem o glamour ao se levantar da cama depois de uma noite de excessos.
    Assim prefiro a simplicidade, onde o mar só precisa de ser mar, com o seu cheiro salgado e sem o azulão do photoshop, o pôr do sol só precisa de ser natural, sem filtros ou ângulos perfeitos, e a silhueta de uma mulher só precisa de ser recortada num movimento de delicadeza, com a sensualidade crua do momento que me fascina, e me aguça os sentidos, até nos momentos que prefiro a solidão dos pensamentos.
    Por vezes paro a olhar (te), ver o evidente, que em diferentes ângulos e cenários desperta uma nova curiosidade. Seja isso no alcatrão partido de uma curva no topo de uma montanha, na terra solta de uma recta no meio de um deserto ou simplesmente sentado à beira de uma estrada comum (com o que muitos chamam de "vazio" como fundo), aí  sentado ao lado de um motor quente que "crispa" com pequenos barulhos metálicos num "desabafo" de descanso, vejo e cheiro mais além, rabiscando com a imaginação o quadro pintado à minha frente, perdido no vulgar, ou mergulhado nele... tão fundo, que sinto a alma se fundir com o que me rodeia, deambulando em pensamentos que transformam as sombras em formas, as estradas em distâncias, a terra em cama, a água em frescura , e a tua pele branca... num fogo.

Friday, August 2, 2013

Nuno Maravilha Artwork

 Um amigo (Nuno Maravilha) fez este desenho para o blogspot do Ghetto. Thanks homie and keep the good work.

Saturday, July 27, 2013

Dias.

         Há dias assim, acordo tarde e já moído pelo dia que vai alto. Logo ali sentado na cama enrolo "toscamente" um cigarro e deixo o sabor me dar algum gosto à garganta e algum lume à alma.
         De seguida, ligo o piloto automático, deixando seguir o instinto mergulhado num silêncio mudo. Encharco a cara com água fria e enfio umas calças de ganga ao calhas (qualquer merda serve para "roçar", pois sinceramente não me chateia, nunca tive "isso" das peças certas para os lugares certos, mesmo consciente do preço que se paga por esse relaxo!).
         Já meio vestido, meio "amanhado", contínuo num percurso (meio instintivo, meio programado!) entre as divisões do pequeno apartamento, acabando sempre num final "viciado", dado pelo click do botão que coloca a máquina do café a trabalhar. O tempo, nesse instante abranda numa última pausa, "como que em expectativa", quase semelhante ao momento antes da partida de uma corrida. Tempo que literalmente foge com o bater dos segundos e obriga a rever os pensamentos mais importantes em "post it" cerebrais, marcando a ansiedade do começo.

         Num instante, estou "jogado" ao trânsito, com o mp3 ligado no máximo, concentrado nos buracos da estrada, nos "buracos" do trânsito, nas fintas e refintas, que por vezes roçam a sorte do momento. E sinto-me bem, sinto-me vivo, sinto-me no limite da liberdade crua e sem romantismos, onde a velocidade não só nos transporta de um ponto para outro, como de um estado de espírito, que tantas vezes temos de vestir, para outro, onde andamos simplesmente... "nus".
Nestes dias, tenho (confortavelmente inconscientemente!) a tendência, de fazer a vontade à irresponsabilidade. Perder-me por aí,  num "vadiar" por sítios conhecidos e caminhos desconhecidos. "Seguir" as ruas sem ver ninguém, e parar nos sítios mais improváveis, que nem precisam de ser assim tão diferentes, mas que-se revelam naquela sensação (pela surpresa!) que passaram por nós no tempo, sem nunca os termos visto.
         Na verdade, acho que sou sempre empurrado por uma inquietude rebelde, que me "arrasta" numa "vadiagem" de rua em rua, de sítio em sítio, de lugar em lugar. Umas vezes perdido do mundo, outras ... perdido de mim próprio, mas sempre fascinado com os detalhes, com os quais escrevo textos sem caneta e tiro fotos sem máquina. Detalhes de sítios, detalhes de pessoas, ou simplesmente detalhes do tempo, que teima em marcar a sua presença, tão bem como o homem, que por sua vez passa a vida a tentar enganá-lo como vingança!

         Enquanto acelero, vejo passar as cores dos prédios, que se entrelaçam no seu estender, sobre diferentes texturas e formas. Fachadas de todas as imagináveis formas permitidas pela arquitectura, aqui e ali salpicadas com o verde das árvores ou com espaços vazios que permitem ver outras ruas, outras fachadas, outras paredes que se levantam, logo ali por detrás, numa maneira quase labiríntica como se de um jogo de lego se tratasse.
         Sorriu e penso que as cidades geram o cenário perfeito para "fugir" do próprio ambiente que criam, não só pelo seu viver que se vai renovando (na descoberta do antigo e na curiosidade que traz o novo), mas também pelo seu movimento enervante, rebelde... possivelmente até paranóico! Humores rodoviários "personalizados" que se vão desenrolando numa atitude quase sempre egoísta, colocando-nos numa verdadeira aventura, que nos absorve na experiência ao ponto de mergulharmos numa solidão que sabemos ser, povoada por uma multidão.
         Tudo isto, leva-me (a mim... e a outros, que como eu rasgam este cenário urbano!) a arriscar um pouco mais os limites, "deslizando" entre o trânsito "nervoso", que nos olha de lado com inveja da nossa liberdade, da nossa vontade, da imagem de sermos nós próprios, um pouco mais livres (naquele momento!) do que os outros.

(Na realidade, é bom deixar-se ser absorvido por este tipo de sensação, um tipo de "quase" consumismo que dispensa o lado financeiro, e nos dá um saber "quase" poético da realidade, com cenários multiplicados, que se desenrolam aos nossos olhos, iluminados pela luz clara que "entra" por entre as caixas de betão, deixando revelar a beleza de uma imperfeição sujeita a tanto, e principalmente... sujeita a quem a criou.)

         Os semáforos alternam-se e moderam-me os excessos. Sem dar por isso, já deixei para trás as ruas, as fachadas compridas, as varandas aproveitadas por marquises, e embato de frente com o rio que corta a cidade.
         Ombreio desacelerando, para me deixar levar por instantes pela corrente ininterrupta, com uma velocidade própria, indiferente a mim e principalmente indiferente ao "meu" tempo.
         Por oportunidade, vou acabar por descobrir um sítio para parar, enrolar um cigarro e deixar-me ficar. Não procuro ver nada, à excepção da passagem da água que ajuda a organizar os pensamentos, como se os enxaguasse, deixando-os mais preparados e limpos para os arrumar.

         Deixo, assim, o corpo cair novamente sobre o banco e carrego com força no travão de trás, o que faz o pneu resvalar no empedrado velho, até o travão conseguir finalmente "estancar" o movimento. Cheguei onde queria chegar, dando conta que já perdi o destino original (como quase sempre!).
Saio da mota e puxo pela caixa metálica do tabaco, enquanto me sento num velho e ferrugento ferro "de ancorar". Não sei se vou demorar ou se vou arrancar de seguida depois de três ou quatro bafos que me encham os pulmões, mas tenho a certeza que vou voltar a seguir caminho (independente ao tempo!). Traçar outra rota e voltar-me a perder, embalado no barulho do motor enquanto sinto o seu "esforço", que corresponde ao rodar do meu pulso... às vezes louco, às vezes calmo, mas sempre obediente às minhas vontades, como uma amante apaixonada.
        

         Por instantes, sinto que a paixão é a base deste vício de liberdade, um vício estranho, tão estranho que marca o estilo de vida, que marca as vontades, que marca os valores. No fundo que marca a personalidade, de uma maneira tão verdadeira que não se molda por mentiras, nem falsas poses, apenas por uma vontade enorme de ser eu, sem medo do que os outros esperam (e queiram!) que eu seja. 

Tuesday, June 11, 2013

Wednesday, June 5, 2013

Art&Moto Long Report

        Bom, nem sei bem como começar! A ideia sobre um "tipo" de reportagem apareceu com um amigo que confia mais no meu jeito para a fazer do que eu próprio. Já pensei em duas ou três maneiras diferentes para a "partida", embora todas elas impeçam como um kick start barato, a falhar na maneira como roda o ponto do "despertar" do motor.
        Isso faz claramente com que a história não avance. Como solução, o melhor será começar onde começo sempre, sentado em cima da mota, três parágrafos mais à frente do começo do que quer que seja, que quero começar a contar...

        Tínhamos combinado encontrarmo-nos perto de um dos portos de Lisboa. Eles já vinham todos juntos, eu juntei-me ao grupo.
        Cruzamos (depois) a cidade, ombro a ombro com o rio, sobre aquele empedrado desconfortável que abranda o trânsito entre semáforos que teimam em não se acertar. Como não costumamos andar juntos, o grupo ia um pouco desorganizado, e as motos espaçavam-se irregularmente, furando entre os carros sem alinhamento. Mas até aí nada de importante, pois grandes "alinhamentos", não eram a disposição para o dia e para o evento. 
        Consoante íamos progredindo num tipo de gincana de obras (novas e antigas, feitas e a fazerem-se!) na qual Lisboa se transformou à beira rio fomos rindo em pequenas ultrapassagens e “piadas” nos semáforos. Tudo tão descontraidamente, que deixava o bicilíndrico da Triumph (de uma maneira estilosa e nervosa!) pautar os silêncios do pesado barulho dos V2 das harleys, do resto do grupo.
        E assim foi durante todo o percurso, que foi serpenteando á beira rio. Mas por mais apaixonantes que sejam as "voltas" por Lisboa (cosendo os diversos cenários de uma cidade desenhada sem plano), esta "volta" foi curta e num instante deixamos as ruas principais e esgueiramo-nos por uma rua estreita até à entrada do nosso destino: uma fábrica antiga, que se abria com portão pintado (como “se lava” a cara a algo antigo), encaixado ao fundo dessa rua.
        Quase toda aquela zona (Alcântara) é antiga e dá a sensação que está mergulhada na sombra da enorme ponte Salazar, que se “eleva” ali por cima (não nos fazendo esquecer, que estamos à beira rio!). Isso vinca a alma do sítio com um estilo próprio de calçadas, ruas inclinadas e curvejadas, armazéns antigos e apartamentos luxuosos que roubaram o "vintage" das fábricas que outrora se erguiam no mesmo sítio. 
photo: Andreia Silva

        E, estilo próprio era também o que não faltava ao sítio para lá dos "tais" portões pretos: o Lx Factory, nome certamente muito diferentes dos tempos "operários" daquele monstro que se esconde (até há bem pouco tempo para morrer!) entre o amontoado de prédios  e os pilares da ponte.
        Logo à entrada, somos cativados pelas pinturas, cartazes e telas que cobrem as paredes recuperadas. Num estilo urbano anunciam os diferentes "sítios" ou eventos  que foram ocupando os antigos edifícios da fábrica, aproveitando de uma maneira “moderna” a alma industrial do recinto. 

photo:D.Wolf

photo:Andreia Silva

photo:D.Wolf

        A rua principal (que devia de ser o tapete para um movimentado formigueiro nos tempos áureos fabris), está hoje ocupada por bares, restaurantes e lojas. Era aí, que as motas que atenderam ao Art&Moto (na maioria delas: caferacers!), se alinhavam pelo passeio. 
        Mesmo tendo começado há pouco tempo, vários grupos, de uma maneira casual, já se iam amontoando por ali, acompanhando a profundidade da rua, deixando (só) a estrada desocupada, e que era frequentemente  atravessada por gente que circulava entre conversas e "sítios". Atravessamos essa rua cheia, com pequenos toques de motor e estacionamos ao fundo, num espaço que foi conquistado certamente com a saída de algum carro.
        Para trás, o estacionamento estava lotado, com os pneus mais ou menos perfilados, o que ajudava a deslumbrar as máquinas preparadas a rigor, imitando tempos e estilos antigos. Triumph´s, BMW´s, Bsa´s, Guzzis, Hondas eYamaha´s saltavam à vista. Algumas clássicas, outras mais "Kustom". Mas havia também as pequenas japonesas "novas no estilo", que se faziam sobressair  pela sua irreverência como putos rebeldes da cidade.




photos:Andreia Silva
photo:D.Wolf

        O evento decorria principalmente nessa rua, e concentrava-se numa enorme livraria, mas dava para perceber que o espírito se espalhava um pouco por todo o lado, com motas que iam passando para cima e para baixo, e pessoas espalhas pelos bares, lojas e infindáveis corredores que servem de escritórios a pequenas empresas modernas, que abraçaram este projecto de comunidade.
        Por isso, o ambiente era saudável. Rodeado de vários estilos de "caféracers". A maioria, de uma nova geração vestida de velha. Pouco a pouco, iam passando também algumas Harley´s , mas eram muito mais as “inglesas”, que se passeavam com aquele romantismo "racing rebelde antigo".
        Encostamos (nós próprios, entenda-se!) ali na rua também. Ocupamos uma mesa com capacetes, e começaram a chegar as primeiras cervejas. No fundo, juntamo-nos ao resto, trocando conversas com caras conhecidas que se iam encontrando e olhando as motas que iam passando.
photo:Andreia Silva

        Engraçado como hoje em dia, no mundo "Kustom", os estilos acabam por se misturar um pouco, e isso reflecte-se nas pessoas, no vestuário, e até nos gostos musicais, que são agora  muito mais "amplos". Mas reflecte-se essencialmente, nas motas e no espírito de criá-las e vivê-las, e isso dilui as barreiras temporais, territoriais, geracionais, fazendo uma aproximação na mentalidade, ou seja, na ideia de cada um, em “criar” uma mota à imagem da visão que temos para o nosso próprio estilo, o que se transforma em algo tão pessoal, que vai muito além da parte mecânica, ou da parte estética em separado, e que só ganha conteúdo se privarmos com elas intimamente: na estrada, nos monólogos de capacete, e nos cenários que rolam connosco em aventuras e desventuras que as viagens de mota nos "levam" e trazem. Não faz sentido, se não for esse o propósito, o gozo, o proveito...o estilo de vida!

photos:Andreia Silva

        Bom, mas se calhar, este, ainda não é um pensamento "abrangente" actual (mesmo sendo um "mundo" pequeno, num País ainda mais pequeno!), e por isso, numa volta que dêmos para descobrir um café com cervejas mais baratas e conhecermos melhor as entranhas da antiga fábrica, encontramos duas choppers "de luxo" que foram "mandadas" estacionar no parque das traseiras.
photo:Andreia Silva

        Ironicamente acabou por ser perto delas, que nos sentamos numa esplanada de bancos compridos. Alguém tinha dito que ali era mais barato,  alguém arriscou a pagar a primeira rodada... Era mais barato!...Melhor!
        Acabou, (por essa e pela razão da sua localização, perto da entrada!), por se tornar num excelente sítio, com as conversas a serem interrompidas frequentemente, por "trabalhares" de motores, que com a sua passagem, nos roubavam o olhar, e dando mais um ou dois assuntos para acrescentar à conversa.
        Motas eram o tema, e assim continuou com o passar do tempo, até os copos deixaram de ser de vidro e passaram a ser de plástico, o barulho das motas ir diminuindo na sua chegada, e a tarde ter começado a fugir, trazendo o frio húmido das noites de primavera.
        Levantámo-nos então, e decidimos visitar finalmente a tal livraria que tinha sido uma gráfica industrial e onde estavam várias "coisas" preparadas pela organização dos 351 Caféracer.

        Caminhamos entre as motas pela rua de calçada até às portas duplas ladeadas por dois cartazes vintage que anunciavam o evento. Estas abriam para uma sala enorme com prateleiras intermináveis atulhadas de livros e escadas quase labirínticas, que acediam a pisos superiores suspensos em fortes vigas de ferro. A quase espiral quadrada de livros que contornava a parede, do chão ao tecto, envolvia essas plataformas que, por sua vez, transpiravam, para o sitio, uma brutalidade industrial, ajudada pela enorme impressora, imponente e bruta, que se mantém no local como que adormecida  pelas histórias  dos livros que a rodeiam.

        Esta foi a primeira visão que "gravei" ao entrar na livraria "Ler Devagar". Tinha lido algures que tinha sido considerada uma das mais espantosas livrarias do mundo, e agora, num só olhar consegui perceber a razão desse título.
        Logo na direcção da entrada estava exposta uma "sweet caferacer". Aproximei-me pra ver o que parecia ser a única construção em exposição.
photo:D.Wolf

        Única mas brilhante, a contrastar com a pintura pérola que lhe dava um look perfeito para aquele motor preto.
        Mas, mentiria se dissesse que não esperava mais motas expostas, principalmente para contrastar com as linhas modernas desta. Linhas demasiado limpas e excepcionalmente fibradas, sem marcas de estrada ou sem ferrugem naqueles pontos onde… nem o maior cuidado consegue evitar.
        Fiquei ainda um bom bocado a admirar os pormenores da renovada CB750, que permanecia vaidosa em cima do palanque para ser deslumbrada. Curiosamente, na rua, em frente à porta de entrada, estava estacionada uma MotoGuzzi, com as cabeças “ameaçadoramente” brilhantes, como "divisas" de alta patente numa farda de gala e uma suspensão dianteira "fina", que reluzia “desafiadoramente”, com os reflexos dos faróis que passavam. A sua cor não a fazia brilhar, mas dava-lhe o estilo rebelde para me fazer querer que estava só ali a desafiar esta vaidosa, numa "rixa" tradicional entre gerações pelo direito do estilo.
        Nisto, um amigo tocou-me no ombro, para segui-lo a subir as escadas. Deixei as motas por instantes, e acho que pela primeira vez me apercebi do burburinho geral que estava dentro daquela sala. O bar que ocupava a parede de fundo do piso da entrada continuava cheio. Pessoas de pé, pessoas sentadas, casacos de cabedal pendurados nas costas das cadeira, e capacetes um pouco por todo o lado. Tudo misturado com os livros, e o barulho típico de um bar atarefado, marcado pelo bater do manipulo do café, quando se sacodem os restos do café anterior.
        Subi as escadas, seguindo quem ia à minha frente e passei para uma outra sala que se distinguia do resto, por uma parede que nos obrigava a contorna-la. Essa entrada, estava adornada por uma Sachs V5 restaurada, bem nacional, de fábrica e culturalmente, e que dava o mote à exposição fotográfica, que enchia o resto da parede, com "detalhes de clássicas portuguesas.". A exposição foi organizada pelo Tiago Santiago (membro dos 351), e não se mostrava só original pelas fotografias, mas também, pela iluminação personalizada para cada uma delas, feita originalmente por faróis de mota clássicos.

art&bike: Tiago Santiago

artwork:João Barros/photo:Andreia Silva


artwork:João Barros/photo:Andreia Silva

        Lá dentro (depois de contornar a tal parede que expunha as fotos) um piano de cauda, e uma mopped qualquer vintage, ocupavam um pequeno palco de uma sala coberta de ilustrações de traço vintage. Um artista Português e dois artistas espanhóis expunham os seus trabalhos, mais concretamente, o António Marinero (espanhol) com ums trabalhos de cores esbatidas que "pintavam" pilotos clássicos em "corridas de antigamente", o Raulowsky (espanhol), com várias ilustrações a preto e branco de traço simples e elegante. E por último o Nuno Capêlo com ilustrações a cores e trabalhadas, que disponham nas paredes várias caferacers, por sinal , motas de alguns membros dos 351.
        Agradavelmente, dava-se a volta, saltando entre os três artistas de traço e técnicas diferentes , mas todas baseadas num estilo revivalista.

art:Antonio Merinero

art:Antonio Merinero

art:Nuno Capelo

art:Nuno Capelo/photos: D.Wolf

art: Nuno Capelo/photo: Andreia Silva

        Acho ("acho", deve ser a expressão mais incorrecta para usar numa suposta reportagem!) que era também nessa sala que se fazia a apresentação de um filme, mas para variar chegamos atrasados. Enfim às vezes é a nossa sorte.
       A sala em ideia de exposição, funcionava bem, “fora de tudo o resto” como um toque de estilo, bem decorado e interessante na ideia e no conteúdo.

       Assim que voltamos ao lado do café livraria, o pequeno grupo com quem eu estava dispersou-se. Uns voltaram ao piso "rasteiro" para ir ver os diversos artigos expostos (capacetes, roupa, etc!), outros, subiram a rampa ligeiramente inclinada que os levava ao outro lado da sala. Piso que rodeava a enorme máquina gráfica com mesas, cadeiras e prateleiras sempre cobertas de livros e mais livros, que se sucediam à velocidade de um olhar, de um título ou de uma capa de cor diferente.
        Os corredores de livros são fascinantes. Dou por mim a procurar títulos por palavras-chaves, que nem sei bem quais são, mas que me fazem despertar para agarrar este ou aquele livro como uma escolha “consciente “ do subconsciente.

       Bom mas esta "suposta" reportagem não é sobre livros, mas sim do Art&Moto, por isso, vou acelerar até descermos novamente as escadas e acabar-nos por juntar outra vez à porta…
        …Enrolei um cigarro e acendi, enquanto outros me imitavam no acto. No mesmo momento, um grupo grande ia a sair, e o barulho ecoava pela rua, agora muito mais vazia.
       Gosto da sensação de algumas destas motas, soam a nervoso e divertido. Quando se ligam, tem de se “rodar” o acelerador com uma agressividade suave, para despertar a combustão de um nervo interno, como se incentivasse o coração da máquina, ou talvez, pensando melhor: o espirito, o que para mim até é fácil de acreditar, pois personifico tantas vezes as motas com as suas birras e vontades ou os seus vícios e temperamentos, que acabo por acreditar que a alma de algumas tem mesmo de ser “incendiada”.
      Enquanto não acabávamos os cigarros, ficamos todos ali, a olhar para eles ( que se iam preparando para arrancar!), com o coração acelerado do trepidar metálico que se ia juntando em alcateia, até o primeiro decidir arrancar, sendo seguido pelo resto do grupo de uma maneira ordeiramente desorganizada, como um grupo de lobos rápidos seguindo o mais veloz.
 
photo: Andreia Silva
       Acabamos de matar o vício do fumo, e logicamente falou-se de jantar. Como não queríamos ir para longe, acabamos por ir a pé, à procura de um restaurante barato que alguém (ou melhor… outra vez alguém!) disse que havia não sei bem onde, logo ali fora da fábrica. Acabamos por atravessar Alcântara, para entrar numa marisqueira cheia de marisco, com a frescura da arca frigorífica e entradas de pão e manteiga. Uma mesa grande albergou todo o grupo, e uns jarros de sangria trouxeram a boa disposição à mesa e a vontade de pedir o que estava na carta.

       O jantar durou um bom bocado, e quando voltamos, encontramos já uma noite aprumada para a boémia, mas com poucas motas a comporem a rua. O frio, certamente também não convidava a uma volta de regresso muito tarde, o que fez muita gente ir embora mais cedo e já não voltar. Mas já havia personagens "à solta" (talvez pensando o mesmo de nós quando nos cruzávamos!), e os bares já projectavam uma luz com côr cá para fora, misturada com o som que se estava a preparar.
        Logo ali ao princípio, uma loja de roupa tinha-se transformado num bar de alterne de anãs. Estivemos para entrar, levantando-se a curiosidade do sítio e do negócio, mas resolvemos deixar para outro dia… Íamos, certamente, acabar da mesma maneira, num “buraco” qualquer, com cerveja ou tequila, mas hoje… não seria naquele!
       Mais à frente, outro bar, já tinha duas motas colocadas no palco, iluminadas ao ritmo do som que ia aumentando de tom. Todos estes e outros cenários, vistos cá de fora, no meio de uma rua meio escura com paredes altas, tornavam o sítio, apesar do frio, "meio" clandestino e agradável de se estar
       Rodeámos as nossas motas para fumar um cigarro, indecisos onde entrar, quando de repente, de dentro de uma porta de madeira estreita e alta, saíram duas personagens torneadas por corpetes de napa preta, e chicote na mão, que assentavam perfeitamente numa versão da antiga série de televisão “Allô Allô”. Aquilo era na altura o “desaire” de qualquer general da Gestapo, e agora... bem podiam ser o nosso.
       Num tom autoritário, como se esperava, dirigiram-se a nós, e encarnando a personagem, entregaram-nos uns convites para um show de bondade que ia acontecer num bar mais à frente. Metemo-nos com elas (claro!), fazendo-as retorquir de chicote na mão, mas com um sorriso nos lábios. Voltaram a convidar… para acedermos, mesmo que numa promessa só simpática, porque todos sabíamos que não íamos ali ficar muito mais tempo.
       A rua continuava meio vazia, assim como os bares. Já nos tinham dito que o grosso das motas tinha ido jantar a um lugar sugerido pela organização, e que mais tarde iriam retornar, para a festa à noite. E certamente foi isso que aconteceu, mas nós já não ficamos para ver, começava a aparecer uma vontade de “circular”, andar de mota. Voltar por um bocado ao trânsito, e despertar uma cidade que está a acordar para viver mais uma noite. Tudo para acabar em algum lado de mãos geladas, frio nos ossos e a alma mais limpa.
       Despedimo-nos de quem quis ficar e arrancamos. Deixamos para trás aquele "monstro", com tudo para ser o sítio fantástico, para um evento muito bom. Uma ideia pioneira de um estilo de vida, que é propício a “good times” e propicio a estas interligações que por vezes encurtam kms e cruzam experiências... de vida... de estilo... de opinião... de fascínio... de Liberdade.
       Que seja para continuar, melhor e maior, aberto a sugestões que possam ajudar e com a mesma dedicação, que só é possível ter, quando realmente se veste o “espírito”.


  
       Deitamo-nos à estrada e acabamos realmente num “buraco”, a ouvir uma banda a cantar êxitos de outros, a beber cerveja com tequila.
        Alguém (e vou acabar a reportagem, sem “reportar”, quem será este alguém!) ainda falou que na manhã seguinte, ia haver uma volta programada pelos "351". Encostados ao bar, imaginamos que ia ser certamente, perto do mar, para poderem gozar o “recortado” da linha marítima, nas estradas que contornam as encostas do nosso litoral. Parar algures para beber qualquer coisa, e voltar a arrancar, ocupando a estrada como um bando em “rotação de passeio”, trazendo a nostalgia rebelde de "outros tempos" Tudo iluminado por um sol enorme, que faz brilhar as encostas e queima a cara com o passar dos kms contra a pele. Isto até regressarem a um sítio qualquer planeado e dar então o evento por acabado, com as normais despedidas.
       Se fosse assim, ia ser sem dúvida, uma volta “para mais tarde recordar” como se dizia "noutros tempos", ou “para mais tarde repetir”… como se espera dizer para o próximo ano.


        Mas para nós, amanhã era já daqui a um bocado, e por muito que a tequila, ajudasse a coragem a "envenenar" o senso, o evento ia mesmo acabar assim, com um brinde de que restava no fundo da garrafa, antes de pedir mais uma rodada daquela cerveja.
photo: Nuno Capelo 

Tempo de voltar

Leaving the wild camping...

Thursday, March 14, 2013

Lisboa Art&Moto

Um evento por cá ( pois, não é só lá fora que se fazem cenas com pinta!) , que vale a pena apoiar e divulgar... Motas "velhas" (que se recusam a ser relíquias!) , clip on´s, quadros rígidos, rock´n´roll, coelhos e outras personagens "não institucionais" ( só não sei se vai haver cavalos, anões e gajas nuas!).

Muita cultura Café Racer, e certamente muita cultura Kustom, num sitio cá do Ghetto (LX Factory), que tem a "cara" deste tipo de evento.

Boa sorte para a organização dos CR 351.


Mais informacões: http://caferacer351.com
 

Wednesday, March 13, 2013

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Não consigo "deixar" esta sensação que: Há sempre alguma coisa de estranho, como um "segredo obscuro", numa mota com para-brisas!!! ...

( ahah Godspeed my good friend. )



ilusões

Simplesmente... prefiro perder-me a viver a minha ilusão, do que "corresponder", e... viver perdido na ilusão dos outros.


Monday, February 25, 2013

today on stage: Ratos do Porão


  O meio da minha adolescência foi marcado por um concerto memorável. Dia que todos os ratos urbanos e "lebres loucas" migraram para Almada, para ouvir ao vivo, aquele som da revolta que só conheciam das cassetes. Eu, ainda na fase de galo sem crista, lá fui indo "levado" com o "grupo da escola", por uma onda, que ia fazendo sair dos ghettos citadinos, aquela juventude no expoente da sua rebeldia urbana. 

  Podia-se dizer que a Margem Norte e a Margem Sul movimentava-se em pequenos grupos que vinham "aprumados" para a festa, num contrates de Doc Martins "reluzentes" e Doc Martins "raspadas" (ou cerveja vs vinho!).

  A rua que descia até à porta da Incrível, era uma mistura de loucura, revolta, garrafas, rebeldia, t-shirts meio rasgadas e "pégas" aqui e ali de rivalidades "à filme".
  Tudo envolvido numa adrenalina, que ainda não ia sendo captada na totalidade pela minha idade ( apesar de tentar "esconder" isso ao máximo, de peito inchado!). E por isso, foi a despejar as duas cervejas, que ainda me restavam escondidas nos bolsos do blusão (que levava amarrado à cintura!), que me deixei empurrar pela fila em direcção à porta do edifício.
  O som lá dentro, movimentava o aumento de adrenalina cá fora, e eu , meio apanhado pela cerveja que trabalhava a dobrar naquela idade, ia sendo cada vez mais "absorvido" por tudo aquilo.Tão absorvido que da fila passei para dentro da sala e... para dentro de um concerto que foi subindo de tom, envolvendo todos numa loucura onde o importante nem era a mensagem, mas a revolta que transcendia dela.
  A determinado ponto... O "Gordo" parou e perguntou lá de cima do palco num auge de bestialidade:

" Será que beber até morrer é solução?"

  Não sei porquê... ( e ainda hoje não consigo perceber!), aquela pergunta fez todo o sentido, para aquela sala cheia ( onde ironicamente, deduzo que os mais sóbrios, só tivessem "muito bêbados"!). Mas continuo a jurar (nesta mente de meio louco!) que "perdi" metade do juízo nesse dia, ou... pelo menos, optei por "nunca" o voltar a ganhar ( claro que o tempo e a idade, nos faz trair essas promessas da adolescência, mesmo que às vezes tentemos muito combater, essa cadencia que nos teima em apanhar!).

  Anos mais tarde, numas das temporadas em NY, vivi perto do CBGB (que já se encontrava numa fase mais "mítica" do que realmente "inovadora"). Por conhecer-mos pessoas em comum, conheci um dos sócios originais, que morava na mesma rua que eu.
Lembro-me do tipo( pois cruzava-mo-nos ocasionalmente na rua), com uma longa barba e cabelo branco. Frequentemente usava (se não sempre!) a "típica" t-shirt, já roçada, de letras brancas e delineadas do CBGB que se tornou a sua (do mitico bar!) imagem de marca. Falávamos cordialmente, e ele ocasionalmente convidava-me para "coisas" que se passavam no bar.
  Mas, curiosamente algumas vezes que trocava-mos mais umas frases que o normal, acabava por-me falar num concerto de Ratos lá ( no CBGB), e como aquele Gordo era "fucked in that fuck up head". Eu argumentava sempre que Portugal não era o Brasil, e que apesar da língua "igual", as diferenças culturais eram grandes, localizava Portugal na Europa, e mais uma serie de coisas, que pensando bem não deveriam interessar nada aquela personagem ( e que muito menos lhe faziam situar um país chamado Portugal, naquela santa ignorância egocêntrica dos Americanos)... Mas ele lá achava que fazia sentido ligar Ratos ao "sitio" de onde eu vinha, talvez, países à parte... tivesse alguma razão!