Monday, August 20, 2012

Paredes


     Este texto inicialmente no meu pensamento, teria um sentido completamente diferente.  

     Seria para falar de Ornatos Violeta e Dead Combo, dar a conhecer a expectativa que se vivia no "sítio" antes de eles tocarem. Um "até orgulho" por serem produtos nacionais, o que tornou as conversas de "trás de palco" muito mais engraçadas, pessoais, e até revivalistas.

     Vivia-se a expectativa, do talento português de uma maneira descontraída entre uma "massa humana" "despida" da imagem das grandes "produções".

    Mas não vou escrevinhar sobre nada disso. Simplesmente perdi a vontade, porque a rebeldia da minha inteligência revolta-se com a estupidez que parece nos rodeiar. Não pelas grande razões (evidentes!!!) mas nas "pequenas razões" que nos massacram e no fundo, sem perceber bem , nos empurram não sei para onde.
  
    Na manhã seguinte ao concerto eu e outro amigo fizemos o "check out" cedo (sem "check",  nem "out",  nem... água quente).
    Tínhamos deixado a carrinha perto da residencial, no centro de Paredes de Coura. Diga-se áquela hora, uma praça abandonada numa vila que ia adormecendo finalmente. Sobreviviam poucos cafés de portas entreabertas, onde se viam empregados cansado a varrer o chão e que esforçadamente serviam aqui e ali uma cerveja a "bandos pequenos de olharapos" que "vadiam" pela vila até mais tarde.
    Um movimento, que teimava, como "réstias" do que foi o frenesim passado pouco antes. Como a acalmia após a "tempestade" (não no mau sentido, entenda-se!!!) que foi a vida nesta pequena vila.

    Bom! continuando...

    Chegamos ao sítio da carrinha em passo rapido, porque tinhamos hora marcada e... no lugar da carrinha e de outros carros estacionados, estava instalada um feira de "coisas várias" (entre sapatos, pintos, cd´s e enxadas). Da noite anterior restavam os sinais "rodoviários" que diziam ser proibido estacionar nos dias de feira das 6h às 19h (simplesmente isto!)
    Procuramos outros sinais que avisassem os dias da feira e... não havia, nem na noite anterior nem nos dias anteriores (pelo menos visiveis!).
    Sem grandes alternativas, e sem "agentes de autoridade" no local, o posto da gnr (propositadamente de letra pequena, como a mentalidade instalada) era então, agora,  o nosso "destino".
    Quando lá chegamos, procedimentos normais, documentos e começa a extorsão à lá carte.
     80€ Reboque
     60€ Multa de estacionamento

    Claro que não amedrontados pela atitude que parece ser cada vez mais standard para disfarçar a infelicidade de ser "agente de autoridade", expusemos o que parecia ser para nós as questões da "indignação"... Como era possível saber os dias de feira, ou como tinha de ser nossa obrigação saber a data sem informação no sitio ou arredores. Era obvio (pelos carros!)não sermos os únicos e... da mesma maneira que tínhamos consciência da transgressão (e essa nunca foi a questão!) também tinha que haver uma consciência da parte "oficiosa da vila" (sejam eles quem forem e ocupem os "tachos que ocuparem) que há um evento enorme a decorrer (que traz "mais -valias" para aquilo que deve ser apenas "mais um sítio" o resto do ano) e que não se podem alienar desse acontecimento.

    Lá por fora, já vi varias vezes, em diversos eventos, as pequenas localidades saudarem os que vem de fora, contentes, com o que trazem na bagagem, nos vários aspectos sociais e económicos.
    Aqui, neste país, é diferente! Temos sempre a sensação (salvo raras excepções!) que os locais estão a fazer um favor, aos que vem de fora.
    Claro que com isto não estou a criticar os habitantes que se esforçam para ser simpáticos (entre sorrisos e olhares de "pasmo" quando espreitam os calções curtinhos da moda), nem as lojas que mesmo com medo da vaga de roubos que "esta gente traz" não deixam de "atender bem". Nem muito menos das empregadas de café que "coram" do esforço entre ligeiras corridas detrás dos pequenos balcões (que nestes dias se tornam mais compridos).
    Estou a falar dos que tem "logísticamente" a responsabilidade social na mão. Dos que vêem o seu trabalho acrescido e em vez de encarar isso como um desafio encaram-no como uma "prevaricação" ao "normal".

     Mas voltando para dentro do posto "das autoridades".

    As perguntas foram recebidas e respondidas com uma atitude de quem se acha no direito de não ser questionado. Mas quando se passa uma multa que representa um terço do ordenado mínimo nacional, têm de se estar preparado para ser questionado e saber responder. Tem de estar preparado, para, não ser chamado de "pequenino" perante o fraco poder de argumentação e de juizo... Pois a lei é cega mas não é idiota!
     E acima de tudo tem de entender que é um agente de "autoridade" e não um agente de "poder", pois no dia que isso acontecer e que todos nós nos conformemos com essa mudança de definição, há muito teremos passado o estado de ditadura e viveremos inevitavelmente num estado de tirania.
    Incrível como conseguimos assistir aos "poderes de certos baralhos de cartas" a contribuírem para encher um baril de pólvora social, simplesmente fiados no "sereno do povo". Substituindo o senso comum por paredes de poder, sem perceber que de tanto se apoiarem nessas paredes, para fingir "ser superior" a este estado social, estas lhes vão cair em cima, numa derrocada ainda maior.
    Mas atenção, não falo especificamente de ninguém ou de nenhum instituição...falo de um sistema total que parece ignorar o juízo, um sistema que teima em estupidificar as suas acções como uma missão. Fazendo-nos crer que somos culpado, quando simplesmente o que querem é que paguemos a "culpa" deles.

  
    Bom!!! Multa paga...( um terço do ordenado mínimo nacional por mau estacionamento!!!)
... e seguimos o nosso caminho. Na cabeça ecoava as vozes que no dia anterior gritavam em uníssono, com orgulho na língua e força nas palavras: " Se pudesse eu pagar de outra forma...".
    Muito mais que uma canção sobre as doença de amor. Uma canção sobre "doenças" que nos contaminam a liberdade.
    Ainda se há-de culpar essas vozes de acender o barril de pólvora, que alguém se deu ao trabalho de "lhes" encher.

    Será a revolta de quem se sente a ser “caçado”. Uma consciência, que como força, nos conduziu durante anos de história, e que parece por vezes se diluir... Mas não!!!( quero acreditar!!!) Resiste dentro de cada um de nós e vai levemente, despertando, na inteligência de quem não se acomoda.


 ( será que exagero na indignação?!?! afinal de contas o sistema precisa de ser alimentado)
  
  

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