Tuesday, July 3, 2012

Godspeed

    "Incrível, sinto-me um cometa que fura entre um espaço aglomerado de luzes vermelhas, carros fumegantes, caras cansadas, olhares reprovadores.
         Trago-te aqui comigo, nua, doce! Com a cabeça deitada no meu ombro, e com a tua pele despida sobre mim. Tenho a certeza que te trago aqui, porque levo o coração acelerado, acelerado ao máximo."

    O trânsito circula dentro da cidade como numa linha de montagem, em filas programadas, num processo automaticamente  antecipado.
    Deixam pouco espaço, e é por ai que passo, é por ai que deixo que a onda me deixe esquivar, passar...  fugir.
    Entretanto mordo o cheiro do teu corpo, e imagino cada movimento teu. Consigo sentir o quente da tua pele a me aquecer as mãos , ou os pêlos " pequeninos" do fundo das tuas costas, a me divertirem os dedos.

    Duas ou três "tangentes", fazem me voltar à estrada, fazem-me rebeliar contra este ambiente.
    Por vezes, divirto-me a imaginar historias por trás de certas personagem com quem me cruzo no transito, mas sinceramente hoje... estou-me a cagar!!!. Esta gente, dentro dos seus pequenos automóveis, atrás dos seus vidros embaciados, com olhares opacos e postos pré-selecionados nos rádios... esta gente enerva-me!
    Enerva-me acima de tudo, a vontade estampada no rosto de alguns, de serem predadores num aquário.

         Mas tu entretanto não te vestiste, não saíste do meu ombro, não deixas te de brilhar. Sim...!!! tu também brilhas. Os americanos chamam-lhe karma, os índios o espírito, os monges do Tibete o nirvana, eu !?!?... Nunca estudei o suficiente para lhe chamar alguma coisa, mas, sei que é único, como um arco-íris perfeito, daqueles que se o seguirmos ate ao fim, tem uma casa de paredes de chocolate e um caldeirão cheio de ouro ao lume.
         Tu estás aqui e não vais embora, tu estás aqui e é bom curtir esta viagem contigo.

    A minha atenção divide-se entre esta "tua" presença e este transito "predador", que cruzo "desesperadamente" como se fosse a  perseguir um Dragão na sua cauda.
    Nunca sabemos para onde vai, que direcção instintivamente vai tomar. Temos de estar sempre atentos às inesperadas chicotadas da própria cauda que podem ditar o... "fim da adrenalina".
       
    Qualquer dia vai me apanhar, qualquer dia vai-me mesmo apanhar.

    Depois... depois tudo se resume "num resumo ingrato" que nos foge por falta de tempo, na porta da eternidade.

    "- Boa noite, o meu nome não tem importância nenhuma de tantas vezes que foi substituído e mal pronunciado. Não tinha nenhuma profissão específica. Procurei viajar para ver as diferenças, mas muitas vezes apenas vi semelhanças. Encontrei a alma no fim do deserto e persegui Dragões pela sua cauda, esperando que cada uma delas valesse a próxima.
         Tive uma vida boa, não fui rico mas coleccionei uma fortuna em momentos. Trai, fui traído, vivi nas camas que fiz e quis, apesar de me terem feito várias vezes a cama. Uma vida rebeldemente livre mesmo tendo a sensação que no fim vou perceber que "percebi tudo mal". Pai com vários amores e um grande amor... "

    Finem Tempus.




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