(photo by:Jell Keppens (ReaperMachines) |
Sunday, September 15, 2013
Friday, September 13, 2013
...
São 2 da manhã, um céu negro vai se desenrolado sobre nós, deixando ver nitidamente múltiplos pontos de luz que parecem "fura-lo".
Sigo a luz de presença avermelhada que vai na frente, deixando-a abrir caminho num estranho dançar com as linhas "tatuadas" da estrada. Ao meu lado, um outro farol (a par com o meu!) ajuda a "iluminar" mais uns metros deste cenário pintado a "cor de escuridão", e logo atrás de nós, outra luz persegue-nos ao mesmo ritmo, fechando este pequeno grupo desalinhado, que persiste em manter um bom andamento.
Estranhamente, pela hora, o ar é quente, e inunda a respiração dentro do capacete, enquanto aquece a pele nua das mãos e do pescoço completamente desprotegida e entregue a "este vento da velocidade" inundado por um calor inesperado de uma noite de principio de primavera. Mas talvez seja também este calor, que faz as motas fluirem nesta velocidade "agitada", fazendo-as "engolir", de uma maneira "quase" relaxante", quilómetros de uma estrada quase vazia, ou melhor, de uma estrada pontualmente ocupada por "vultos", que vão ficando para trás, com ultrapassagens que lhe contornam as formas e certamente... estremecem os vidros e os sentidos.
Faço um esforço para me focar no caminho real, mas todo este ambiente "embala-me" o espírito, ao ponto de sentir o "afinado" barulho dos motores mergulhar os meus pensamentos numa espécie de túnel. Devagar, perco-me algures entre esta estrada e um outro percurso que-se desenrola em "rewind", não de um dia , não de uma história, não de um momento, mas de uma vida, de escolhas, e de... atitudes.
Pregos num caixão , pregados entre cigarros enrolados e garrafas meio vazias - hoje de cerveja, ontem de tequilla, amanhã de uma treta qualquer que desça pela garganta e que distraia um pouco em loucura, as mazelas da alma.
De repente, erguido da escuridão pelas luzes dos nossos faróis, reparo num sinal gigante com placas de alumínio pintadas com diferentes cores de sinalização. Marcam diferentes distancias, enunciam diferentes cidades (todas familiares para mim!) e apontam em diferentes direcções, o que me dá a sensação de estarmos num "estranho" centro de caminhos inexactos - caminhos que, como raios de sol, "rebentam" de um ponto central, e percorrem o espaço, estendendo-se nos seus diferentes comprimentos, como uma historia escrita em vários, incertos e apaixonantes capítulos.
Assim, sou "mandado" pela imaginação para a "porta" de alguns desses sítios, ladeando essas "entradas" de personagens que se foram cruzando comigo, e que me mostraram o melhor e o pior de lugares, situações, tempos, e até de mim próprio e ... desta minha loucura, que peregrinou em milhas e quilómetros sobre ela própria, sempre procurando com rebeldia um "bocado" de sorte, fosse num balcão de um bar desconhecido, num cheiro de uma mulher quente ou naqueles "caminhos de terra e pó" marcados por uma nuvem que se levanta à nossa passagem, para depois, lentamente, assentar sobre o traço deixado pelo nosso pneu.
Se calhar agora, já não procuro tanto a sorte como antes, resignado às poucas vezes que me cruzo com ela, mas continuo a "vadiar" nos mesmos sítios, incentivado por uma rebeldia entranhada, que consome o tempo e me eleva na percepção do mundo no simples toque com a realidade.
A atenção chama-me de volta para a estrada, que se desenrola numa folha de alcatrão por baixo dos meus pés, e deixo por agora os pensamentos. Vejo a mota da frente inclinar-se num movimento estiloso e acompanho-a instintivamente, em sintonia com a mota ao meu lado, o que nos coloca na faixa de saída (ou melhor, de entrada!) para umas bombas de gasolina que-se iluminam com caixas de luzes brilhantes, cobertas de vinis, que ostentam as cores da marca. Obrigatoriamente, percorremos um corredor de 50 metros, por uma ligeira inclinação de uma faixa, e já debaixo do "tecto" do nosso destino, paramos as motas.
Dos quatro, apenas dois precisam de atestar as motas, enquanto eu e outro paramos, paralelamente, no pequeno parqueamento para paragens temporárias. O silêncio pauta o ambiente e apenas as nossas vozes, e os "suspiros" metálicos dos motores desligados, quebram a monotonia à nossa volta. Não há um único carro a abastecer ou estacionado, e dentro da bomba (de portas já fechadas!) o lugar da empregada está vazio, em frente a um intercomunicador mudo.
Eles tentam mesmo assim atestar, mas como era previsível, não conseguem, por isso têm de esperar que apareça numa das portas (certamente de um escritório, ou algo parecido!) uma rapariga sem pressa. E apareceu! É tão feia, que nos apanha de surpresa! Até o seu andar meio apatetado do sono, a torna numa personagem sinistra, com uma sobrancelha única a cobrir-lhe os olhos vermelhos e cansados, certamente deste trabalho que já lhe sugou qualquer tipo de beleza e agora lhe suga o que resta da alma. Talvez pela visão, os meus dois amigos apressam-se a pagar a gasolina, atestam os depósitos e juntam-se a nós, no passeio.
À nossa volta existe um vazio denso, apesar das muitas luzes que iluminam toda a zona comercial (estando o restante, tapado à vista, pela noite). Enquanto enrolo um cigarro falamos disso (e claro, da "gaja" feia!) o que nos faz ficar a "curtir", por momentos, a calma "quase" sombria que envolve aquele lugar. Engraçado como ainda há pouco me sentia "num" centro de um qualquer lugar e agora (um par de quilómetros mais à frente!) sinto-me "num" fim de um lugar qualquer. Partilho essa ideia e todos concordam, talvez o façam porque todos passamos pelo mesmo sitio ou então, talvez... porque são todos tão loucos como eu. Seja como for, estamos agora aqui, sentados no que decidimos ser, neste momento, um "fim do mundo", indecisos sobre quem vai dar conversa " da tanga" à miúda feia das bombas( para a convencer a vender umas latas de cerveja, pois a esta hora já é proibido comprar álcool por aqui!) e a "gozar", por breves instantes, o tempo que parece ter parado para ajudar a esticar o corpo moído.
No fundo, em boa verdade, o que rodeia o momento pouco importa, aqui, como em tantos outros sítios já passados, o mais importante é o sentimento do momento, assim como as pessoas que lhe pertencem e a própria razão de ele existir (mesmo que muitos não a compreendam).
Mas porque o amanhã, será depressa um ontem preso a um tempo que não pára, reflectindo-se numa inquietude do mundo que não nos deixa parar por muito tempo, voltamos a "enfiar" os capacetes, e preparamos-nos para seguir. Ainda perguntei a mim mesmo, no instante antes de carregar no "start"; para onde iríamos a seguir, se já estávamos no fim do mundo, mas o barulho do "começar" foi quase sincronizado entre as motas, e num momento "rápido", sem conseguir completar a resposta à minha pergunta, estou lançado já para lá daquele fim, embalado novamente naquele vício, que risca e arrisca a alma, agarrado a este guiador, como se me agarrasse a própria vida.
Com o passar dos quilómetros, o cenário começa a mudar, os "múltiplos pontos de luz" multiplicam-se agora também pela planície acidentada, "aclarando" num tipo de aura o que nos espera mais à frente. Sinto o tempo aquecer ainda mais (como é normal quando entramos em zonas urbanas!), o grupo começa a organizar-se para se dividir e seguir caminhos de ocasião separados.
Assim, a primeira mota a afastar-se, despede-se com um toque de "nós dos dedos" entre condutores, e traça uma mudança de rumo, deixando-se escapulir por uma saída à esquerda que a faz desaparecer por uma ponta solta, que se afasta da linha cosida aonde continuamos. Mais à frente outra escolhe tambem uma diferente direcção, fazendo o mesmo ritual de despedida, e ficando para trás, como se largada no espaço. Sobram assim, duas motas, que "cruzam" mais para o interior da cidade. Mas depressa ( porque continuamos ao ritmo de viver!) somos separados por saídas diferentes numa das muitas rotundas da cidade. E é por causa do caminho que tomo que sou obrigado a parar num semáforo no início de uma grande avenida. Aproveito para olhar o céu opaco, mas já não vejo as estrelas (o que mostra que já estou "rodeado da luz citadina"!) Vejo sim, deste ponto, numa linha recta, o meu destino, espaçado apenas por semáforos, que a esta hora são inconvenientes para a vontade de lá chegar. Por isso, desespero pela mudança de côr do sinal.
Verde! Arranco, mesmo sem querer, envolvido por uma pequena ansiedade, que pode bem ser da aproximação do "destino" ou simplesmente pelo cansaço da hora! Mas sem perder muito tempo a pensar nisso, "galgo" a maioria dos sinais, oscilando entre os verdes e os amarelos. Sinto-me como se perseguisse rebeldemente algo que não vejo... talvez um sonho. Na verdade sinto que o faço constantemente, mesmo que a pisar os limites, mas não me importo, é importante persegui-los (aos sonhos!) mesmo que possam acabar por se revelar bem mais culpa da loucura, do que realmente de algum propósito intelectualmente planeado. Na realidade acabam por valer o mesmo, sempre sujeitos à sorte do futuro.
Vermelho! Não consegui "escapar" ao ultimo! Travo " em cima" e deixo acalmar o motor que vem numa rotação "gritante". Tenho o coração um pouco acelerado, e a respiração oscila entre o esforço de uma pequena corrida e a adrenalina de um pequeno "abuso". Olho à minha volta, abro a viseira para ouvir a cidade ( que neste momento, por causa da mota, me ouve mais a mim!), e realizo que estou sozinho. Penso nos que seguiram em "direcções diferentes", com a certeza que também eles perseguem e perseguirão alguma coisa.
Verde! Sorrio... Felizmente sei que a loucura tende em atrai-se, por isso havemos de nos voltar a encontrar. Até Breve.
Sigo a luz de presença avermelhada que vai na frente, deixando-a abrir caminho num estranho dançar com as linhas "tatuadas" da estrada. Ao meu lado, um outro farol (a par com o meu!) ajuda a "iluminar" mais uns metros deste cenário pintado a "cor de escuridão", e logo atrás de nós, outra luz persegue-nos ao mesmo ritmo, fechando este pequeno grupo desalinhado, que persiste em manter um bom andamento.
Estranhamente, pela hora, o ar é quente, e inunda a respiração dentro do capacete, enquanto aquece a pele nua das mãos e do pescoço completamente desprotegida e entregue a "este vento da velocidade" inundado por um calor inesperado de uma noite de principio de primavera. Mas talvez seja também este calor, que faz as motas fluirem nesta velocidade "agitada", fazendo-as "engolir", de uma maneira "quase" relaxante", quilómetros de uma estrada quase vazia, ou melhor, de uma estrada pontualmente ocupada por "vultos", que vão ficando para trás, com ultrapassagens que lhe contornam as formas e certamente... estremecem os vidros e os sentidos.
Faço um esforço para me focar no caminho real, mas todo este ambiente "embala-me" o espírito, ao ponto de sentir o "afinado" barulho dos motores mergulhar os meus pensamentos numa espécie de túnel. Devagar, perco-me algures entre esta estrada e um outro percurso que-se desenrola em "rewind", não de um dia , não de uma história, não de um momento, mas de uma vida, de escolhas, e de... atitudes.
Pregos num caixão , pregados entre cigarros enrolados e garrafas meio vazias - hoje de cerveja, ontem de tequilla, amanhã de uma treta qualquer que desça pela garganta e que distraia um pouco em loucura, as mazelas da alma.
De repente, erguido da escuridão pelas luzes dos nossos faróis, reparo num sinal gigante com placas de alumínio pintadas com diferentes cores de sinalização. Marcam diferentes distancias, enunciam diferentes cidades (todas familiares para mim!) e apontam em diferentes direcções, o que me dá a sensação de estarmos num "estranho" centro de caminhos inexactos - caminhos que, como raios de sol, "rebentam" de um ponto central, e percorrem o espaço, estendendo-se nos seus diferentes comprimentos, como uma historia escrita em vários, incertos e apaixonantes capítulos.
Assim, sou "mandado" pela imaginação para a "porta" de alguns desses sítios, ladeando essas "entradas" de personagens que se foram cruzando comigo, e que me mostraram o melhor e o pior de lugares, situações, tempos, e até de mim próprio e ... desta minha loucura, que peregrinou em milhas e quilómetros sobre ela própria, sempre procurando com rebeldia um "bocado" de sorte, fosse num balcão de um bar desconhecido, num cheiro de uma mulher quente ou naqueles "caminhos de terra e pó" marcados por uma nuvem que se levanta à nossa passagem, para depois, lentamente, assentar sobre o traço deixado pelo nosso pneu.
Se calhar agora, já não procuro tanto a sorte como antes, resignado às poucas vezes que me cruzo com ela, mas continuo a "vadiar" nos mesmos sítios, incentivado por uma rebeldia entranhada, que consome o tempo e me eleva na percepção do mundo no simples toque com a realidade.
A atenção chama-me de volta para a estrada, que se desenrola numa folha de alcatrão por baixo dos meus pés, e deixo por agora os pensamentos. Vejo a mota da frente inclinar-se num movimento estiloso e acompanho-a instintivamente, em sintonia com a mota ao meu lado, o que nos coloca na faixa de saída (ou melhor, de entrada!) para umas bombas de gasolina que-se iluminam com caixas de luzes brilhantes, cobertas de vinis, que ostentam as cores da marca. Obrigatoriamente, percorremos um corredor de 50 metros, por uma ligeira inclinação de uma faixa, e já debaixo do "tecto" do nosso destino, paramos as motas.
Dos quatro, apenas dois precisam de atestar as motas, enquanto eu e outro paramos, paralelamente, no pequeno parqueamento para paragens temporárias. O silêncio pauta o ambiente e apenas as nossas vozes, e os "suspiros" metálicos dos motores desligados, quebram a monotonia à nossa volta. Não há um único carro a abastecer ou estacionado, e dentro da bomba (de portas já fechadas!) o lugar da empregada está vazio, em frente a um intercomunicador mudo.
Eles tentam mesmo assim atestar, mas como era previsível, não conseguem, por isso têm de esperar que apareça numa das portas (certamente de um escritório, ou algo parecido!) uma rapariga sem pressa. E apareceu! É tão feia, que nos apanha de surpresa! Até o seu andar meio apatetado do sono, a torna numa personagem sinistra, com uma sobrancelha única a cobrir-lhe os olhos vermelhos e cansados, certamente deste trabalho que já lhe sugou qualquer tipo de beleza e agora lhe suga o que resta da alma. Talvez pela visão, os meus dois amigos apressam-se a pagar a gasolina, atestam os depósitos e juntam-se a nós, no passeio.
À nossa volta existe um vazio denso, apesar das muitas luzes que iluminam toda a zona comercial (estando o restante, tapado à vista, pela noite). Enquanto enrolo um cigarro falamos disso (e claro, da "gaja" feia!) o que nos faz ficar a "curtir", por momentos, a calma "quase" sombria que envolve aquele lugar. Engraçado como ainda há pouco me sentia "num" centro de um qualquer lugar e agora (um par de quilómetros mais à frente!) sinto-me "num" fim de um lugar qualquer. Partilho essa ideia e todos concordam, talvez o façam porque todos passamos pelo mesmo sitio ou então, talvez... porque são todos tão loucos como eu. Seja como for, estamos agora aqui, sentados no que decidimos ser, neste momento, um "fim do mundo", indecisos sobre quem vai dar conversa " da tanga" à miúda feia das bombas( para a convencer a vender umas latas de cerveja, pois a esta hora já é proibido comprar álcool por aqui!) e a "gozar", por breves instantes, o tempo que parece ter parado para ajudar a esticar o corpo moído.
No fundo, em boa verdade, o que rodeia o momento pouco importa, aqui, como em tantos outros sítios já passados, o mais importante é o sentimento do momento, assim como as pessoas que lhe pertencem e a própria razão de ele existir (mesmo que muitos não a compreendam).
Mas porque o amanhã, será depressa um ontem preso a um tempo que não pára, reflectindo-se numa inquietude do mundo que não nos deixa parar por muito tempo, voltamos a "enfiar" os capacetes, e preparamos-nos para seguir. Ainda perguntei a mim mesmo, no instante antes de carregar no "start"; para onde iríamos a seguir, se já estávamos no fim do mundo, mas o barulho do "começar" foi quase sincronizado entre as motas, e num momento "rápido", sem conseguir completar a resposta à minha pergunta, estou lançado já para lá daquele fim, embalado novamente naquele vício, que risca e arrisca a alma, agarrado a este guiador, como se me agarrasse a própria vida.
Com o passar dos quilómetros, o cenário começa a mudar, os "múltiplos pontos de luz" multiplicam-se agora também pela planície acidentada, "aclarando" num tipo de aura o que nos espera mais à frente. Sinto o tempo aquecer ainda mais (como é normal quando entramos em zonas urbanas!), o grupo começa a organizar-se para se dividir e seguir caminhos de ocasião separados.
Assim, a primeira mota a afastar-se, despede-se com um toque de "nós dos dedos" entre condutores, e traça uma mudança de rumo, deixando-se escapulir por uma saída à esquerda que a faz desaparecer por uma ponta solta, que se afasta da linha cosida aonde continuamos. Mais à frente outra escolhe tambem uma diferente direcção, fazendo o mesmo ritual de despedida, e ficando para trás, como se largada no espaço. Sobram assim, duas motas, que "cruzam" mais para o interior da cidade. Mas depressa ( porque continuamos ao ritmo de viver!) somos separados por saídas diferentes numa das muitas rotundas da cidade. E é por causa do caminho que tomo que sou obrigado a parar num semáforo no início de uma grande avenida. Aproveito para olhar o céu opaco, mas já não vejo as estrelas (o que mostra que já estou "rodeado da luz citadina"!) Vejo sim, deste ponto, numa linha recta, o meu destino, espaçado apenas por semáforos, que a esta hora são inconvenientes para a vontade de lá chegar. Por isso, desespero pela mudança de côr do sinal.
Verde! Arranco, mesmo sem querer, envolvido por uma pequena ansiedade, que pode bem ser da aproximação do "destino" ou simplesmente pelo cansaço da hora! Mas sem perder muito tempo a pensar nisso, "galgo" a maioria dos sinais, oscilando entre os verdes e os amarelos. Sinto-me como se perseguisse rebeldemente algo que não vejo... talvez um sonho. Na verdade sinto que o faço constantemente, mesmo que a pisar os limites, mas não me importo, é importante persegui-los (aos sonhos!) mesmo que possam acabar por se revelar bem mais culpa da loucura, do que realmente de algum propósito intelectualmente planeado. Na realidade acabam por valer o mesmo, sempre sujeitos à sorte do futuro.
Vermelho! Não consegui "escapar" ao ultimo! Travo " em cima" e deixo acalmar o motor que vem numa rotação "gritante". Tenho o coração um pouco acelerado, e a respiração oscila entre o esforço de uma pequena corrida e a adrenalina de um pequeno "abuso". Olho à minha volta, abro a viseira para ouvir a cidade ( que neste momento, por causa da mota, me ouve mais a mim!), e realizo que estou sozinho. Penso nos que seguiram em "direcções diferentes", com a certeza que também eles perseguem e perseguirão alguma coisa.
Verde! Sorrio... Felizmente sei que a loucura tende em atrai-se, por isso havemos de nos voltar a encontrar. Até Breve.
(photo by#Garcia#Hated of the world) |
Saturday, August 31, 2013
today on stage: Tape Junk
Porque hoje já é sábado...
Porque há muito tempo não "postava" nenhuma musica...
Porque vale sempre a pena ouvir e divulgar boas bandas nacionais...
Sunday, August 11, 2013
Momento
Por vezes, quando tento imaginar um "quadro" perfeito, envergonho-me com a minha criatividade. Peco pelas linhas simples em cenários simples, sem ostentações ou excessos de vontades e quereres.
Acabo por fugir para o mundo, de um mundo cada vez mais igual, onde o objectivo é a ostentação ou o protagonismo, simples e rápido, de ter feito, estado ou visto, mesmo que tudo isso seja em "pacote", conduzidos em fila indiana, como personagens de um filme que sofrem mil situações extremas, mas que nunca se despenteiam ou perdem o glamour ao se levantar da cama depois de uma noite de excessos.
Assim prefiro a simplicidade, onde o mar só precisa de ser mar, com o seu cheiro salgado e sem o azulão do photoshop, o pôr do sol só precisa de ser natural, sem filtros ou ângulos perfeitos, e a silhueta de uma mulher só precisa de ser recortada num movimento de delicadeza, com a sensualidade crua do momento que me fascina, e me aguça os sentidos, até nos momentos que prefiro a solidão dos pensamentos.
Por vezes paro a olhar (te), ver o evidente, que em diferentes ângulos e cenários desperta uma nova curiosidade. Seja isso no alcatrão partido de uma curva no topo de uma montanha, na terra solta de uma recta no meio de um deserto ou simplesmente sentado à beira de uma estrada comum (com o que muitos chamam de "vazio" como fundo), aí sentado ao lado de um motor quente que "crispa" com pequenos barulhos metálicos num "desabafo" de descanso, vejo e cheiro mais além, rabiscando com a imaginação o quadro pintado à minha frente, perdido no vulgar, ou mergulhado nele... tão fundo, que sinto a alma se fundir com o que me rodeia, deambulando em pensamentos que transformam as sombras em formas, as estradas em distâncias, a terra em cama, a água em frescura , e a tua pele branca... num fogo.
Friday, August 2, 2013
Nuno Maravilha Artwork
Saturday, July 27, 2013
Dias.
Há dias assim, acordo tarde e já moído
pelo dia que vai alto. Logo ali sentado na cama enrolo "toscamente"
um cigarro e deixo o sabor me dar algum gosto à garganta e algum lume à alma.
De seguida, ligo o piloto automático,
deixando seguir o instinto mergulhado num silêncio mudo. Encharco a cara com
água fria e enfio umas calças de ganga ao calhas (qualquer merda serve para
"roçar", pois sinceramente não me chateia, nunca tive
"isso" das peças certas para os lugares certos, mesmo consciente do
preço que se paga por esse relaxo!).
Já meio vestido, meio
"amanhado", contínuo num percurso (meio instintivo, meio programado!)
entre as divisões do pequeno apartamento, acabando sempre num final
"viciado", dado pelo click do botão que coloca a máquina do café a
trabalhar. O tempo, nesse instante abranda numa última pausa, "como que em
expectativa", quase semelhante ao momento antes da partida de uma corrida.
Tempo que literalmente foge com o bater dos segundos e obriga a rever os
pensamentos mais importantes em "post it" cerebrais, marcando a
ansiedade do começo.
Num instante, estou "jogado"
ao trânsito, com o mp3 ligado no máximo, concentrado nos buracos da estrada,
nos "buracos" do trânsito, nas fintas e refintas, que por vezes roçam
a sorte do momento. E sinto-me bem, sinto-me vivo, sinto-me no limite da
liberdade crua e sem romantismos, onde a velocidade não só nos transporta de um
ponto para outro, como de um estado de espírito, que tantas vezes temos de
vestir, para outro, onde andamos simplesmente... "nus".
Nestes dias, tenho (confortavelmente inconscientemente!) a
tendência, de fazer a vontade à irresponsabilidade. Perder-me por aí, num "vadiar" por sítios conhecidos e
caminhos desconhecidos. "Seguir" as ruas sem ver ninguém, e parar nos
sítios mais improváveis, que nem precisam de ser assim tão diferentes, mas que-se
revelam naquela sensação (pela surpresa!) que passaram por nós no tempo, sem
nunca os termos visto.
Na verdade, acho que sou sempre
empurrado por uma inquietude rebelde, que me "arrasta" numa
"vadiagem" de rua em rua, de sítio em sítio, de lugar em lugar. Umas
vezes perdido do mundo, outras ... perdido de mim próprio, mas sempre fascinado
com os detalhes, com os quais escrevo textos sem caneta e tiro fotos sem
máquina. Detalhes de sítios, detalhes de pessoas, ou simplesmente detalhes do
tempo, que teima em marcar a sua presença, tão bem como o homem, que por sua
vez passa a vida a tentar enganá-lo como vingança!
Enquanto acelero, vejo passar as cores
dos prédios, que se entrelaçam no seu estender, sobre diferentes texturas e
formas. Fachadas de todas as imagináveis formas permitidas pela arquitectura,
aqui e ali salpicadas com o verde das árvores ou com espaços vazios que
permitem ver outras ruas, outras fachadas, outras paredes que se levantam, logo
ali por detrás, numa maneira quase labiríntica como se de um jogo de lego se
tratasse.
Sorriu e penso que as cidades geram o
cenário perfeito para "fugir" do próprio ambiente que criam, não só
pelo seu viver que se vai renovando (na descoberta do antigo e na curiosidade
que traz o novo), mas também pelo seu movimento enervante, rebelde...
possivelmente até paranóico! Humores rodoviários "personalizados" que
se vão desenrolando numa atitude quase sempre egoísta, colocando-nos numa
verdadeira aventura, que nos absorve na experiência ao ponto de mergulharmos
numa solidão que sabemos ser, povoada por uma multidão.
Tudo
isto, leva-me (a mim... e a outros, que como eu rasgam este cenário urbano!) a
arriscar um pouco mais os limites, "deslizando" entre o trânsito
"nervoso", que nos olha de lado com inveja da nossa liberdade, da
nossa vontade, da imagem de sermos nós próprios, um pouco mais livres (naquele
momento!) do que os outros.
(Na realidade, é bom deixar-se ser absorvido por este tipo de
sensação, um tipo de "quase" consumismo que dispensa o lado
financeiro, e nos dá um saber "quase" poético da realidade, com
cenários multiplicados, que se desenrolam aos nossos olhos, iluminados pela luz
clara que "entra" por entre as caixas de betão, deixando revelar a
beleza de uma imperfeição sujeita a tanto, e principalmente... sujeita a quem a
criou.)
Os semáforos alternam-se e moderam-me
os excessos. Sem dar por isso, já deixei para trás as ruas, as fachadas
compridas, as varandas aproveitadas por marquises, e embato de frente com o rio
que corta a cidade.
Ombreio desacelerando, para me deixar
levar por instantes pela corrente ininterrupta, com uma velocidade própria,
indiferente a mim e principalmente indiferente ao "meu" tempo.
Por oportunidade, vou acabar por
descobrir um sítio para parar, enrolar um cigarro e deixar-me ficar. Não
procuro ver nada, à excepção da passagem da água que ajuda a organizar os
pensamentos, como se os enxaguasse, deixando-os mais preparados e limpos para
os arrumar.
Deixo, assim, o corpo cair novamente
sobre o banco e carrego com força no travão de trás, o que faz o pneu resvalar
no empedrado velho, até o travão conseguir finalmente "estancar" o
movimento. Cheguei onde queria chegar, dando conta que já perdi o destino original
(como quase sempre!).
Saio da mota e puxo pela caixa metálica do tabaco, enquanto me
sento num velho e ferrugento ferro "de ancorar". Não sei se vou
demorar ou se vou arrancar de seguida depois de três ou quatro bafos que me
encham os pulmões, mas tenho a certeza que vou voltar a seguir caminho
(independente ao tempo!). Traçar outra rota e voltar-me a perder, embalado no
barulho do motor enquanto sinto o seu "esforço", que corresponde ao
rodar do meu pulso... às vezes louco, às vezes calmo, mas sempre obediente às
minhas vontades, como uma amante apaixonada.
Por instantes, sinto que a paixão é a
base deste vício de liberdade, um vício estranho, tão estranho que marca o
estilo de vida, que marca as vontades, que marca os valores. No fundo que marca
a personalidade, de uma maneira tão verdadeira que não se molda por mentiras,
nem falsas poses, apenas por uma vontade enorme de ser eu, sem medo do que os
outros esperam (e queiram!) que eu seja.
Tuesday, June 11, 2013
Today on stage: Booker T & the MG´s
"Once upon a time..."
when women had curves and had real boobs...
when women had curves and had real boobs...
Wednesday, June 5, 2013
Art&Moto Long Report
Isso faz claramente com que a história
não avance. Como solução, o melhor será começar onde começo sempre, sentado em
cima da mota, três parágrafos mais à frente do começo do que quer que seja, que
quero começar a contar...
Tínhamos combinado encontrarmo-nos perto
de um dos portos de Lisboa. Eles já vinham todos juntos, eu juntei-me ao grupo.
Cruzamos (depois) a cidade, ombro a
ombro com o rio, sobre aquele empedrado desconfortável que abranda o trânsito
entre semáforos que teimam em não se acertar. Como não costumamos andar juntos,
o grupo ia um pouco desorganizado, e as motos espaçavam-se irregularmente,
furando entre os carros sem alinhamento. Mas até aí nada de importante, pois
grandes "alinhamentos", não eram a disposição para o dia e para o
evento.
Consoante íamos progredindo num tipo de
gincana de obras (novas e antigas, feitas e a fazerem-se!) na qual Lisboa se
transformou à beira rio fomos rindo em pequenas ultrapassagens e “piadas” nos
semáforos. Tudo tão descontraidamente, que deixava o bicilíndrico da Triumph (de uma maneira estilosa e
nervosa!) pautar os silêncios do pesado barulho dos V2 das harleys, do resto do
grupo.
E assim foi durante todo o percurso, que
foi serpenteando á beira rio. Mas por mais apaixonantes que sejam as
"voltas" por Lisboa (cosendo os diversos cenários de uma cidade
desenhada sem plano), esta "volta" foi curta e num instante deixamos
as ruas principais e esgueiramo-nos por uma rua estreita até à entrada do nosso
destino: uma fábrica antiga, que se abria com portão pintado (como “se lava” a
cara a algo antigo), encaixado ao fundo dessa rua.
Quase toda aquela zona (Alcântara) é
antiga e dá a sensação que está mergulhada na sombra da enorme ponte Salazar,
que se “eleva” ali por cima (não nos fazendo esquecer, que estamos à beira
rio!). Isso vinca a alma do sítio com um estilo próprio de calçadas, ruas
inclinadas e curvejadas, armazéns antigos e apartamentos luxuosos que roubaram
o "vintage" das fábricas que outrora se erguiam no mesmo sítio.
photo: Andreia Silva |
E, estilo próprio era também o que não
faltava ao sítio para lá dos "tais" portões pretos: o Lx Factory, nome
certamente muito diferentes dos tempos "operários" daquele monstro
que se esconde (até há bem pouco tempo para morrer!) entre o amontoado de
prédios e os pilares da ponte.
Logo à entrada, somos cativados pelas
pinturas, cartazes e telas que cobrem as paredes recuperadas. Num estilo urbano
anunciam os diferentes "sítios" ou eventos que foram ocupando
os antigos edifícios da fábrica, aproveitando de uma maneira “moderna” a alma
industrial do recinto.
photo:D.Wolf |
photo:Andreia Silva |
photo:D.Wolf |
A rua principal (que devia de ser o
tapete para um movimentado formigueiro nos tempos áureos fabris), está hoje
ocupada por bares, restaurantes e lojas. Era aí, que as motas que atenderam ao
Art&Moto (na maioria delas: caferacers!), se alinhavam pelo passeio.
Mesmo tendo começado há pouco tempo, vários
grupos, de uma maneira casual, já se iam amontoando por ali, acompanhando a
profundidade da rua, deixando (só) a estrada desocupada, e que era
frequentemente atravessada por gente que circulava entre conversas e
"sítios". Atravessamos essa rua cheia, com pequenos toques de
motor e estacionamos ao fundo, num espaço que foi conquistado certamente com a saída
de algum carro.
Para trás, o estacionamento estava
lotado, com os pneus mais ou menos perfilados, o que ajudava a deslumbrar as
máquinas preparadas a rigor, imitando tempos e estilos antigos. Triumph´s, BMW´s, Bsa´s, Guzzis, Hondas eYamaha´s saltavam à vista. Algumas clássicas, outras mais "Kustom".
Mas havia também as pequenas japonesas "novas no estilo", que se
faziam sobressair pela sua irreverência como putos rebeldes da cidade.
photos:Andreia Silva |
photo:D.Wolf |
O evento decorria principalmente nessa
rua, e concentrava-se numa enorme livraria, mas dava para perceber que o
espírito se espalhava um pouco por todo o lado, com motas que iam passando para
cima e para baixo, e pessoas espalhas pelos bares, lojas e infindáveis
corredores que servem de escritórios a pequenas empresas modernas, que
abraçaram este projecto de comunidade.
Por isso, o ambiente era saudável. Rodeado
de vários estilos de "caféracers". A maioria, de uma nova geração
vestida de velha. Pouco a pouco, iam passando também algumas Harley´s , mas
eram muito mais as “inglesas”, que se passeavam com aquele romantismo
"racing rebelde antigo".
Encostamos (nós próprios, entenda-se!)
ali na rua também. Ocupamos uma mesa com capacetes, e começaram a chegar as
primeiras cervejas. No fundo, juntamo-nos ao resto, trocando conversas com
caras conhecidas que se iam encontrando e olhando as motas que iam passando.
photo:Andreia Silva |
Engraçado como hoje em dia, no mundo "Kustom",
os estilos acabam por se misturar um pouco, e isso reflecte-se nas pessoas, no
vestuário, e até nos gostos musicais, que são agora muito mais
"amplos". Mas reflecte-se essencialmente, nas motas e no espírito de
criá-las e vivê-las, e isso dilui as barreiras temporais, territoriais,
geracionais, fazendo uma aproximação na mentalidade, ou seja, na ideia de cada
um, em “criar” uma mota à imagem da visão que temos para o nosso próprio
estilo, o que se transforma em algo tão pessoal, que vai muito além da parte
mecânica, ou da parte estética em separado, e que só ganha conteúdo se
privarmos com elas intimamente: na estrada, nos monólogos de capacete, e nos
cenários que rolam connosco em aventuras e desventuras que as viagens de mota
nos "levam" e trazem. Não faz sentido, se não for esse o propósito, o
gozo, o proveito...o estilo de vida!
photos:Andreia Silva |
Bom, mas se calhar, este, ainda não é um
pensamento "abrangente" actual (mesmo sendo um "mundo"
pequeno, num País ainda mais pequeno!), e por isso, numa volta que dêmos para
descobrir um café com cervejas mais baratas e conhecermos melhor as entranhas
da antiga fábrica, encontramos duas choppers "de luxo" que foram
"mandadas" estacionar no parque das traseiras.
photo:Andreia Silva |
Ironicamente acabou por ser perto delas,
que nos sentamos numa esplanada de bancos compridos. Alguém tinha dito que ali
era mais barato, alguém arriscou a pagar a primeira rodada... Era mais
barato!...Melhor!
Acabou, (por essa e pela razão da sua
localização, perto da entrada!), por se tornar num excelente sítio, com as
conversas a serem interrompidas frequentemente, por "trabalhares" de
motores, que com a sua passagem, nos roubavam o olhar, e dando mais um ou dois
assuntos para acrescentar à conversa.
Motas eram o tema, e assim continuou com
o passar do tempo, até os copos deixaram de ser de vidro e passaram a ser de
plástico, o barulho das motas ir diminuindo na sua chegada, e a tarde ter
começado a fugir, trazendo o frio húmido das noites de primavera.
Levantámo-nos então, e decidimos visitar
finalmente a tal livraria que tinha sido uma gráfica industrial e onde estavam
várias "coisas" preparadas pela organização dos 351 Caféracer.
Caminhamos entre as motas pela rua de
calçada até às portas duplas ladeadas por dois cartazes vintage que anunciavam
o evento. Estas abriam para uma sala enorme com prateleiras intermináveis
atulhadas de livros e escadas quase labirínticas, que acediam a pisos
superiores suspensos em fortes vigas de ferro. A quase espiral quadrada de
livros que contornava a parede, do chão ao tecto, envolvia essas plataformas
que, por sua vez, transpiravam, para o sitio, uma brutalidade industrial,
ajudada pela enorme impressora, imponente e bruta, que se mantém no local como
que adormecida pelas histórias dos livros que a rodeiam.
Esta foi a primeira visão que "gravei"
ao entrar na livraria "Ler Devagar". Tinha lido algures que tinha
sido considerada uma das mais espantosas livrarias do mundo, e agora, num só
olhar consegui perceber a razão desse título.
Logo na direcção da entrada estava
exposta uma "sweet caferacer". Aproximei-me pra ver o
que parecia ser a única construção em exposição.
photo:D.Wolf |
Única mas brilhante, a contrastar com a
pintura pérola que lhe dava um look perfeito para aquele motor preto.
Mas, mentiria se dissesse que não
esperava mais motas expostas, principalmente para contrastar com as linhas
modernas desta. Linhas demasiado limpas e excepcionalmente fibradas, sem marcas
de estrada ou sem ferrugem naqueles pontos onde… nem o maior cuidado consegue
evitar.
Fiquei ainda um bom bocado a admirar os pormenores
da renovada CB750, que permanecia
vaidosa em cima do palanque para ser deslumbrada. Curiosamente, na rua, em
frente à porta de entrada, estava estacionada uma MotoGuzzi, com as cabeças “ameaçadoramente” brilhantes, como
"divisas" de alta patente numa farda de gala e uma suspensão
dianteira "fina", que reluzia “desafiadoramente”, com os reflexos dos
faróis que passavam. A sua cor não a fazia brilhar, mas dava-lhe o estilo rebelde
para me fazer querer que estava só ali a desafiar esta vaidosa, numa
"rixa" tradicional entre gerações pelo direito do estilo.
Nisto, um amigo tocou-me no ombro, para
segui-lo a subir as escadas. Deixei as motas por instantes, e acho que pela
primeira vez me apercebi do burburinho geral que estava dentro daquela sala. O
bar que ocupava a parede de fundo do piso da entrada continuava cheio. Pessoas
de pé, pessoas sentadas, casacos de cabedal pendurados nas costas das cadeira,
e capacetes um pouco por todo o lado. Tudo misturado com os livros, e o barulho
típico de um bar atarefado, marcado pelo bater do manipulo do café, quando se
sacodem os restos do café anterior.
Subi as escadas, seguindo quem ia à
minha frente e passei para uma outra sala que se distinguia do resto, por uma
parede que nos obrigava a contorna-la. Essa entrada, estava adornada por uma Sachs V5 restaurada, bem nacional, de
fábrica e culturalmente, e que dava o mote à exposição fotográfica, que enchia
o resto da parede, com "detalhes de clássicas portuguesas.". A
exposição foi organizada pelo Tiago Santiago (membro dos 351), e não se
mostrava só original pelas fotografias, mas também, pela iluminação
personalizada para cada uma delas, feita originalmente por faróis de mota clássicos.
art&bike: Tiago Santiago |
artwork:João Barros/photo:Andreia Silva |
artwork:João Barros/photo:Andreia Silva |
Lá dentro (depois de contornar a tal
parede que expunha as fotos) um piano de cauda, e uma mopped qualquer vintage,
ocupavam um pequeno palco de uma sala coberta de ilustrações de traço vintage.
Um artista Português e dois artistas espanhóis expunham os seus trabalhos, mais
concretamente, o António Marinero (espanhol) com ums trabalhos de cores esbatidas que "pintavam" pilotos clássicos em "corridas de antigamente", o Raulowsky (espanhol), com várias
ilustrações a preto e branco de traço simples e elegante.
E por último o Nuno Capêlo com ilustrações a cores e trabalhadas, que disponham nas paredes várias caferacers, por sinal , motas de alguns membros dos 351.
Agradavelmente, dava-se a volta,
saltando entre os três artistas de traço e técnicas diferentes , mas todas baseadas num estilo revivalista.
art:Antonio Merinero |
art:Antonio Merinero |
art:Nuno Capelo |
art:Nuno Capelo/photos: D.Wolf |
Acho ("acho",
deve ser a expressão mais incorrecta para usar numa suposta reportagem!) que
era também nessa sala que se fazia a apresentação de um filme, mas para variar
chegamos atrasados. Enfim às vezes é a nossa sorte.
A sala em ideia de exposição, funcionava bem, “fora de tudo o resto” como um toque
de estilo, bem decorado e interessante na ideia e no conteúdo.
Assim que voltamos ao lado do café livraria, o pequeno grupo com quem eu estava
dispersou-se. Uns voltaram ao piso "rasteiro" para ir ver os diversos
artigos expostos (capacetes, roupa, etc!), outros, subiram a rampa ligeiramente
inclinada que os levava ao outro lado da sala. Piso que rodeava a enorme
máquina gráfica com mesas, cadeiras e prateleiras sempre cobertas de livros e
mais livros, que se sucediam à velocidade de um olhar, de um título ou de uma
capa de cor diferente.
Os corredores de livros são fascinantes.
Dou por mim a procurar títulos por palavras-chaves, que nem sei bem quais são,
mas que me fazem despertar para agarrar este ou aquele livro como uma escolha “consciente
“ do subconsciente.
Bom mas esta "suposta" reportagem não é sobre livros, mas sim do Art&Moto, por isso, vou acelerar até
descermos novamente as escadas e acabar-nos por juntar outra vez à porta…
…Enrolei um cigarro e acendi, enquanto
outros me imitavam no acto. No mesmo momento, um grupo grande ia a sair, e o
barulho ecoava pela rua, agora muito mais vazia.
Gosto da sensação de algumas destas motas, soam a nervoso e divertido. Quando
se ligam, tem de se “rodar” o acelerador com uma agressividade suave, para
despertar a combustão de um nervo interno, como se incentivasse o coração da
máquina, ou talvez, pensando melhor: o espirito, o que para mim até é fácil de
acreditar, pois personifico tantas vezes as motas com as suas birras e vontades
ou os seus vícios e temperamentos, que acabo por acreditar que a alma de
algumas tem mesmo de ser “incendiada”.
Enquanto não acabávamos os cigarros, ficamos todos ali, a olhar para eles ( que
se iam preparando para arrancar!), com o coração acelerado do trepidar metálico
que se ia juntando em alcateia, até o primeiro decidir arrancar, sendo seguido
pelo resto do grupo de uma maneira ordeiramente desorganizada, como um grupo de
lobos rápidos seguindo o mais veloz.
Acabamos de matar o vício do fumo, e logicamente falou-se de jantar. Como não
queríamos ir para longe, acabamos por ir a pé, à procura de um restaurante
barato que alguém (ou melhor… outra vez alguém!) disse que havia não sei bem
onde, logo ali fora da fábrica. Acabamos por atravessar Alcântara, para entrar
numa marisqueira cheia de marisco, com a frescura da arca frigorífica e
entradas de pão e manteiga. Uma mesa grande albergou todo o grupo, e uns jarros
de sangria trouxeram a boa disposição à mesa e a vontade de pedir o que estava
na carta.
O jantar durou um bom bocado, e quando voltamos, encontramos já uma noite
aprumada para a boémia, mas com poucas motas a comporem a rua. O frio,
certamente também não convidava a uma volta de regresso muito tarde, o que fez
muita gente ir embora mais cedo e já não voltar. Mas já havia personagens "à
solta" (talvez pensando o mesmo de nós quando nos cruzávamos!), e os bares
já projectavam uma luz com côr cá para fora, misturada com o som que se estava
a preparar.
Logo ali ao
princípio, uma loja de roupa tinha-se transformado num bar de alterne de anãs.
Estivemos para entrar, levantando-se a curiosidade do sítio e do negócio, mas
resolvemos deixar para outro dia… Íamos, certamente, acabar da mesma maneira,
num “buraco” qualquer, com cerveja ou tequila, mas hoje… não seria naquele!
Mais à frente, outro bar, já tinha duas motas colocadas no palco, iluminadas ao
ritmo do som que ia aumentando de tom. Todos estes e outros cenários, vistos cá
de fora, no meio de uma rua meio escura com paredes altas, tornavam o sítio,
apesar do frio, "meio" clandestino e agradável de se estar
Rodeámos as nossas motas para fumar um cigarro, indecisos onde entrar, quando
de repente, de dentro de uma porta de madeira estreita e alta, saíram duas
personagens torneadas por corpetes de napa preta, e chicote na mão, que
assentavam perfeitamente numa versão da antiga série de televisão “Allô Allô”.
Aquilo era na altura o “desaire” de qualquer general da Gestapo, e agora... bem podiam ser o nosso.
Num tom autoritário, como se esperava, dirigiram-se a nós, e encarnando a
personagem, entregaram-nos uns convites para um show de bondade que ia acontecer num bar mais à frente. Metemo-nos com elas
(claro!), fazendo-as retorquir de chicote na mão, mas com um sorriso nos
lábios. Voltaram a convidar… para acedermos, mesmo que numa promessa só
simpática, porque todos sabíamos que não íamos ali ficar muito mais tempo.
A rua continuava meio vazia, assim como os bares. Já nos tinham dito que o
grosso das motas tinha ido jantar a um lugar sugerido pela organização, e que
mais tarde iriam retornar, para a festa à noite. E certamente foi isso que
aconteceu, mas nós já não ficamos para ver, começava a aparecer uma vontade de
“circular”, andar de mota. Voltar por um bocado ao trânsito, e despertar uma
cidade que está a acordar para viver mais uma noite. Tudo para acabar em algum
lado de mãos geladas, frio nos ossos e a alma mais limpa.
Despedimo-nos de quem quis ficar e arrancamos. Deixamos para trás aquele "monstro",
com tudo para ser o sítio fantástico, para um evento muito bom. Uma ideia
pioneira de um estilo de vida, que é propício a “good times” e propicio a estas interligações que por vezes encurtam
kms e cruzam experiências... de vida... de estilo... de opinião... de
fascínio... de Liberdade.
Que seja para continuar, melhor e maior, aberto a sugestões que possam ajudar e
com a mesma dedicação, que só é possível ter, quando realmente se veste o “espírito”.
Deitamo-nos à estrada e acabamos realmente num “buraco”, a ouvir uma banda a
cantar êxitos de outros, a beber cerveja com tequila.
Alguém (e vou acabar a reportagem, sem
“reportar”, quem será este alguém!) ainda falou que na manhã seguinte, ia haver
uma volta programada pelos "351". Encostados ao bar, imaginamos que
ia ser certamente, perto do mar, para poderem gozar o “recortado” da linha
marítima, nas estradas que contornam as encostas do nosso litoral. Parar
algures para beber qualquer coisa, e voltar a arrancar, ocupando a estrada como
um bando em “rotação de passeio”, trazendo a nostalgia rebelde de "outros
tempos" Tudo iluminado por um sol enorme, que faz brilhar as encostas e
queima a cara com o passar dos kms contra a pele. Isto até regressarem a um
sítio qualquer planeado e dar então o evento por acabado, com as normais
despedidas.
Se fosse assim, ia ser sem dúvida, uma volta “para mais tarde recordar” como se
dizia "noutros tempos", ou “para mais tarde repetir”… como se espera
dizer para o próximo ano.
Mas para nós, amanhã era já daqui a um
bocado, e por muito que a tequila, ajudasse a coragem a "envenenar" o
senso, o evento ia mesmo acabar assim, com um brinde de que restava no fundo da
garrafa, antes de pedir mais uma rodada daquela cerveja.
photo: Nuno Capelo |
Friday, May 17, 2013
Thursday, March 14, 2013
Lisboa Art&Moto
Um evento por cá ( pois, não é só lá fora que
se fazem cenas com pinta!) , que vale a pena apoiar e divulgar... Motas
"velhas" (que se recusam a ser relíquias!) , clip on´s, quadros rígidos,
rock´n´roll, coelhos e outras personagens "não institucionais" ( só não sei se vai haver cavalos, anões e gajas nuas!).
Muita cultura Café Racer, e certamente muita cultura Kustom, num sitio cá do Ghetto (LX Factory), que tem a "cara" deste tipo de evento.
Boa sorte para a organização dos CR 351.
Mais informacões: http://caferacer351.com
Muita cultura Café Racer, e certamente muita cultura Kustom, num sitio cá do Ghetto (LX Factory), que tem a "cara" deste tipo de evento.
Boa sorte para a organização dos CR 351.
Mais informacões: http://caferacer351.com
Wednesday, March 13, 2013
-
Não consigo "deixar" esta sensação que: Há sempre alguma coisa de estranho, como um "segredo obscuro", numa mota com para-brisas!!! ...
( ahah Godspeed my good friend. )
( ahah Godspeed my good friend. )
ilusões
Simplesmente... prefiro perder-me a viver a minha ilusão, do que "corresponder", e... viver perdido na ilusão dos outros.
Monday, February 25, 2013
today on stage: Ratos do Porão
O meio da minha adolescência foi marcado por um concerto memorável. Dia que todos os ratos urbanos e "lebres loucas" migraram para Almada, para ouvir ao vivo, aquele som da revolta que só conheciam das cassetes. Eu, ainda na fase de galo sem crista, lá fui indo "levado" com o "grupo da escola", por uma onda, que ia fazendo sair dos ghettos citadinos, aquela juventude no expoente da sua rebeldia urbana.
Podia-se dizer que a Margem Norte e a Margem Sul movimentava-se em pequenos grupos que vinham "aprumados" para a festa, num contrates de Doc Martins "reluzentes" e Doc Martins "raspadas" (ou cerveja vs vinho!).
A rua que descia até à porta da Incrível, era uma mistura de loucura, revolta, garrafas, rebeldia, t-shirts meio rasgadas e "pégas" aqui e ali de rivalidades "à filme".
Tudo envolvido numa adrenalina, que ainda não ia sendo captada na totalidade pela minha idade ( apesar de tentar "esconder" isso ao máximo, de peito inchado!). E por isso, foi a despejar as duas cervejas, que ainda me restavam escondidas nos bolsos do blusão (que levava amarrado à cintura!), que me deixei empurrar pela fila em direcção à porta do edifício.
O som lá dentro, movimentava o aumento de adrenalina cá fora, e eu , meio apanhado pela cerveja que trabalhava a dobrar naquela idade, ia sendo cada vez mais "absorvido" por tudo aquilo.Tão absorvido que da fila passei para dentro da sala e... para dentro de um concerto que foi subindo de tom, envolvendo todos numa loucura onde o importante nem era a mensagem, mas a revolta que transcendia dela.
A determinado ponto... O "Gordo" parou e perguntou lá de cima do palco num auge de bestialidade:
" Será que beber até morrer é solução?"
Não sei porquê... ( e ainda hoje não consigo perceber!), aquela pergunta fez todo o sentido, para aquela sala cheia ( onde ironicamente, deduzo que os mais sóbrios, só tivessem "muito bêbados"!). Mas continuo a jurar (nesta mente de meio louco!) que "perdi" metade do juízo nesse dia, ou... pelo menos, optei por "nunca" o voltar a ganhar ( claro que o tempo e a idade, nos faz trair essas promessas da adolescência, mesmo que às vezes tentemos muito combater, essa cadencia que nos teima em apanhar!).
Anos mais tarde, numas das temporadas em NY, vivi perto do CBGB (que já se encontrava numa fase mais "mítica" do que realmente "inovadora"). Por conhecer-mos pessoas em comum, conheci um dos sócios originais, que morava na mesma rua que eu.
Lembro-me do tipo( pois cruzava-mo-nos ocasionalmente na rua), com uma longa barba e cabelo branco. Frequentemente usava (se não sempre!) a "típica" t-shirt, já roçada, de letras brancas e delineadas do CBGB que se tornou a sua (do mitico bar!) imagem de marca. Falávamos cordialmente, e ele ocasionalmente convidava-me para "coisas" que se passavam no bar.
Mas, curiosamente algumas vezes que trocava-mos mais umas frases que o normal, acabava por-me falar num concerto de Ratos lá ( no CBGB), e como aquele Gordo era "fucked in that fuck up head". Eu argumentava sempre que Portugal não era o Brasil, e que apesar da língua "igual", as diferenças culturais eram grandes, localizava Portugal na Europa, e mais uma serie de coisas, que pensando bem não deveriam interessar nada aquela personagem ( e que muito menos lhe faziam situar um país chamado Portugal, naquela santa ignorância egocêntrica dos Americanos)... Mas ele lá achava que fazia sentido ligar Ratos ao "sitio" de onde eu vinha, talvez, países à parte... tivesse alguma razão!
Subscribe to:
Posts (Atom)